terça-feira, 10 de dezembro de 2013

UM VISLUMBRE DA TEOLOGIA BÍBLICA DO TRABALHO


Esboço da mensagem pregada pelo autor na Igreja Presbiteriana da Alvorada (SHC/N SQ 410 Área Especial s/nº - Brasília/DF), por ocasião da “Semana com Propósitos”, realizada no período de 8 a 14 de dezembro de 2013. A proposta desta semana é promover a análise de como nossos propósitos devem ser firmados para a glória de Deus em quaisquer aspectos da vida, tais como: vida pessoal, vida familiar, vida espiritual, vida profissional, vida ministerial, vida financeira e os relacionamentos.

“Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos.”
Provérbios 16:3

Não nos é suficiente identificar propósitos. Devemos consagrá-los ao Senhor! Devo, inicialmente, destacar a existência de uma perigosa dicotomia: O sagrado e o Secular. Qual a consequência, ainda que sutil, que este tipo de pensamento pode ocasionar?

1.  Isso pode nos conduzir a compreender a vida espiritual como sendo unicamente possível de ser vivida no ambiente de uma comunidade espiritual;
2.  Isso pode nos conduzir a compreender que os demais aspectos de nossa vida (familiar, profissional, emocional, etc.) podem ser vividos sem qualquer submissão às verdades da Escritura.

Entretanto, o fim desta dicotomia está explícito nas Escrituras; senão, vejamos:

“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.”
I Coríntios 10:31

“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.”
Colossenses 3:17

A vida espiritual deve permear todos os aspectos de nossa vida, devendo ser compreendida como sendo “nossa vida”, e não como sendo “um dos aspectos” de nossa vida. Muitos cristãos tendem a fazer uma separação entre vida secular e vida espiritual. Como vimos, a Escritura declara o fim desta dicotomia. Quais as implicações se eliminarmos esta dicotomia?

1.   Tudo o que exercemos na vida terá um valor sublime, pois passará a estar integrado com a vida espiritual, tendo, por conseguinte, o propósito de glorificar a Deus;
2.  Tudo o que era visto na perspectiva do comum passará a ser visto na perspectiva do sagrado;
3.  Todo trabalhador passará a ser visto como um mordomo que serve a Deus.
Já abordamos que a nossa vida espiritual não deve ser vista como um apêndice de nossa vida. A partir do momento que nos rendemos ao senhorio de Cristo, temos uma “nova vida”, cujo desenvolvimento está sujeito às leis que regem o Reino de Deus.

Minha tarefa nesta ocasião é apresentar-vos, ainda que de forma inicial, um pequeno vislumbre da vida profissional sob o enfoque bíblico, de modo que possamos glorificar a Deus. O cristão precisa ter a consciência de que o seu trabalho não pode estar dominado pelos seguintes males: vício de trabalhar, trabalho escravizador, primazia da competitividade, culto do sucesso, materialismo, e culto da pessoa autorrealizada.

Assim sendo, quero abordar apenas dois aspectos do que poderíamos chamar de “A Teologia Bíblica do Trabalho”, de modo que lhes apresentarei apenas um vislumbre deste tema tão amplo e maravilhoso:

I – O trabalho não é uma consequência da queda do homem.
II – O trabalho é uma oportunidade para o despertamento da generosidade.

I – O TRABALHO NÃO É UMA CONSEQUÊNCIA DA QUEDA DO HOMEM.

Inicialmente, a narrativa da criação é uma narrativa do trabalho divino. Alguns verbos descrevem este trabalho: criou (Gn 1:1), pairava (Gn 1:2), disse (Gn 1:3), viu (Gn 1:4), chamou (Gn 1:5), colocou (Gn 1:17), façamos (Gn 1:26) e abençoou (Gn 1:28). Um pouco mais adiante, a narrativa da criação converte-se numa narrativa do trabalho humano; senão, vejamos:

“Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.”
Gênesis 2:15

O verbo “cultivar” relaciona-se com a cooperação humana na produção da vida, ao passo que o verbo “guardar”, relaciona-se com a cooperação humana na preservação da vida. Esta era a perspectiva inicial de Deus com relação ao trabalho, ou seja, uma atividade voltada para o cultivo e a preservação da vida.

II – O TRABALHO É UMA OPORTUNIDADE PARA O DESPERTAMENTO DA GENEROSIDADE.

O trabalho deve ser compreendido como uma atividade que se destina a criar oportunidade para a generosidade. Caso venhamos a trabalhar pautados na inclinação de nossa natureza caída, o egoísmo característico desta natureza caída, nos conduzirá a trabalharmos com os olhos fixos no “eu”, de modo a fazer com que valorizemos o que temos e o que conquistamos pelo trabalho.
A Escritura, por outro lado, desconectando-nos do egoísmo, evidencia que um dos objetivos que Deus intenta alcançar em nossa vida por intermédio do trabalho é que sejamos generosos.

“Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.”
Efésios 4:28

“Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça, enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz que, por nosso intermédio, sejam tributadas graças a Deus.”
II Coríntios 9:10-11

“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus Mais bem-aventurado é dar que receber.”
Atos 20:35

A generosidade tratará com a nossa inclinação egoísta, de modo que aquilo que conquistamos e adquirimos pelo trabalho seja visto como um recurso disponível para a prática da generosidade, desconectando-nos do “eu” e promovendo nossa conexão com o outro.


Que o Espírito de Deus nos auxilie na compreensão destas duas importantes vertentes da Teologia Bíblica do Trabalho. O trabalho não é uma consequência da queda do homem, mas antes, uma atividade voltada para o cultivo e a preservação da vida, um ato de cooperação com Deus na condução dos rumos desta vida. Além disso, o trabalho é uma atividade voltada para o despertamento da generosidade em nosso viver, de modo que possamos militar contra a velha natureza que nos impõe uma vida egoísta.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A GRANDE COMISSÃO

Ao ler Mateus 28.18-20; Marcos 16.15; Lucas 24.44-48; João 20.21 e Atos 1.8 (textos que falam sobre a Grande Comissão) percebi que a Grande Comissão pode ser assim conceituada:

A grande comissão é um mandamento-promessa que Jesus deu aos Seus discípulos. Como mandamento, a grande comissão consiste na ordem para que Seus discípulos percorram todo o mundo pregando o evangelho, com a firme atitude de fazer discípulos, batizá-los e ensiná-los a obedecer todas as coisas por Ele ordenadas. Como promessa, a grande comissão consiste na garantia de que Jesus estará com o Seus discípulos no cumprimento desta missão, de tal sorte que o envio deles será tal qual o Seu envio pelo Pai e de que eles serão capacitados pelo poder do Espírito Santo para realizá-la.

Textos bíblicos utilizados:

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mateus 28:18-20)

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16:15

“A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. Vós sois testemunhas destas coisas. Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lucas 24:44-49)

“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio.” (João 20:21)


“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (Atos 1:8)

domingo, 27 de outubro de 2013

AS MARCAS DE UMA IGREJA QUE SE ENCONTRA COM CRISTO


24 Grande multidão o seguia, comprimindo-o. 25 Aconteceu que certa mulher, que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia 26 e muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior, 27 tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste. 28 Porque, dizia: Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada. 29 E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do seu flagelo. 30 Jesus, reconhecendo imediatamente que dele saíra poder, virando-se no meio da multidão, perguntou: Quem me tocou nas vestes? 31 Responderam-lhe seus discípulos: Vês que a multidão te aperta e dizes: Quem me tocou? 32 Ele, porém, olhava ao redor para ver quem fizera isto. 33 Então, a mulher, atemorizada e tremendo, cônscia do que nela se operara, veio, prostrou-se diante dele e declarou-lhe toda a verdade. 34 E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre do teu mal.”
Marcos 5:25-34

INTRODUÇÃO: Os evangelhos são um vigoroso relato da vida e obra de Jesus. Se desejarmos conhecer sobre Cristo é muito importante que leiamos várias vezes os evangelhos. O evangelho de Marcos é, dos quatro evangelhos, o relato mais antigo que possuímos sobre a vida e a obra de Jesus. O começo deste evangelho é simplesmente maravilhoso! Ele diz:

“Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.”
Marcos 1:1

Este evangelho não se ocupa com notas biográficas acerca de Jesus, tanto é assim que não vemos neste evangelho nenhuma narrativa acerca do nascimento e da infância de Jesus. No entanto, vemos uma abundância de narrativas voltadas a descrever os atos de Jesus. O evangelho de Marcos dedica-se, muito mais, aos atos de Jesus do que aos discursos que Ele proferiu. Neste sentido, este evangelho parece transmitir-nos a seguinte mensagem: Queres conhecer Jesus? Observe atentamente o que Ele realizou!


NOTA: Quando Marcos nos apresenta a pessoa de Jesus, à medida que descreve Seus atos terrenos, ele nos faz perceber que todos os atos de Jesus foram praticados a partir de Sua interação com muitas pessoas. O texto que lemos nos apresenta um importante exemplo dos vários tipos de pessoas com os quais Cristo se relacionava.

Quatro tipos de personagens interagem com Cristo no texto que lemos:

a)     O primeiro tipo está representado pela multidão;
b)    O segundo tipo está representado pela mulher;
c)     O terceiro tipo está representado pelos discípulos;
d)    O quarto tipo está representando ..... bem, deste tipo falaremos depois.

Nossa atenção se voltará, nesta noite, sobre que tipo de personagem está representado pela mulher relatada no texto.

As Escrituras nos apresentam a seguinte realidade: A mulher é amplamente apresentada como uma figura da igreja. Assim, a partir do texto que lemos, podemos identificar quais tipos de pessoas integram a igreja de Cristo.

I – A IGREJA É FORMADA POR PESSOAS QUE SURGEM DA MULTIDÃO (v. 24). No meio da multidão podemos ver todo tipo de pessoas: boas – más, violentas – pacíficas, saudáveis – doentes, com a alma em descanso – com a alma em angústia. Isto significa que Jesus está à procura de todos. Não existe uma única pessoa que não seja alvo do amor de Deus;

II – A IGREJA É FORMADA POR PESSOAS QUE ENCONTRAM NAS DIFICULDADES UMA OPORTUNIDADE PARA SE ENCONTRAREM COM CRISTO (v. 25). No entanto, em que pese Jesus voltar-se para todo tipo de pessoas, vemos naquela mulher um importante exemplo para nós: Ele utilizou suas angústias e suas dificuldades como ponte para encontrar-se com Cristo;

III – A IGREJA É FORMADA POR PESSOAS QUE NÃO DESISTEM APESAR DE TEREM TOMADO DECISÕES QUE NÃO FORAM BEM SUCEDIDAS (v. 26). O texto deixa evidente que aquela mulher “muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior”; Padecera – (do grego Pascho: “ser afetado, ter sido afetado, sentir, ter uma experiência sensível, passar por”). Despendido – (Significa, não apenas dissipar, gastar, consumir, tem também o sentido de fazer despesas). Esta mulher poderia achar que suas expectativas se foram, que não havia mais esperança. No entanto, é para tais pessoas que Cristo se move em santa expectativa!

IV – A IGREJA É FORMADA POR PESSOAS QUE APROVEITAM AQUILO QUE OUVEM ACERCA DE CRISTO (v. 27). Aquela mulher ouvir falar de Jesus! Todas as coisas que ela ouviu a respeito de Cristo foram como o gatilho para a sua fé. Ela se aproveitou de cada detalhe! Tudo o que nos diz respeito a Cristo é importante para nossa vida. Tudo nEle e dEle é boa notícia: Por isso que Marcos nos diz no início deste livro: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.” (Marcos 1:1). Isto nos transmite a seguinte mensagem: Em Cristo, estamos apenas no princípio das boas novas. Isto é apenas o começo! Em Cristo nós vivemos um eterno: Tem mais!
13 Eu creio que verei a bondade do Senhor na terra dos viventes. 14 Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo Senhor.”
Salmos 27:13-14


Mas existe um quarto tipo de pessoa que interage com Cristo nesta passagem. Não estou falando da multidão, da mulher ou dos discípulos. Refiro-me a Jairo. Ele tem uma virtude: continuou perto de Cristo, mesmo quando parecia que Cristo o havia esquecido. Qual a vantagem de Jairo: Ele presenciou tudo o que Jesus fez com a mulher e tudo o que Jesus falou com ela. Todas aquelas palavras foram encorajadoras para ele.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

UM VISLUMBRE DAS IMPLICAÇÕES MISSIOLÓGICAS DA ELEIÇÃO DE ISRAEL COMO POVO DE DEUS


Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.”


  
O chamamento missiológico de Abrão e, por via de consequência, de Israel como povo de Deus, pode ser claramente visto no texto de Gênesis 12:1-3.


Nesta porção das Escrituras, vemos, de um modo muito claro, a eleição de Abrão, e nele, a eleição de Israel, como povo da promessa. As implicações missiológicas deste chamado podem ser discernidas em três aspectos, todos detectados em cada um dos versículos acima mencionados:


Versículo 1: A locução verbal “sai [...] e vai” expressa a participação humana como elemento deste chamado missiológico. Este “sai [...] e vai” é uma conduta humana pautada na fé, de modo que a fé é a mola indutora da capacidade de Abrão para, não somente ouvir, mas entender as implicações do chamado que o impelia a “ir” sem saber para onde estava indo. Fé para ouvir e fé para discernir o conteúdo do falar divino;


Versículo 2: A expressão “de ti farei [...] te abençoarei, e te engrandecerei [...] Abençoarei os que [...] e amaldiçoarei os que [...]” evidencia a participação divina neste chamado missiológico. Isto significa que Deus é o único suficientemente poderoso para viabilizar todas as condições necessárias ao cumprimento do chamado que Ele ofereceu a Abrão. Combinando os dois versículos teremos o binômio: O homem responde e Deus capacita;


Versículo 3: A expressão “serão benditas todas as famílias da terra” aponta para o culminar do projeto divino inicialmente revelado no chamamento de Abrão. Ele chama para que todas as famílias da terra sejam benditas. É significativamente notável a expressão: “em ti”. Isso significa que é nele, Abrão, que as famílias da terra alcançarão a graça de serem benditas. O instrumento de Deus [“em ti”, ou seja, Abrão e os que dele descendem pela fé, conforme Gálatas 3:7] é vigorosamente alcançado pelo “Deus capacitador”, que o transforma no canal pelo qual o favor divino alcançará todas famílias da terra. O foco divino nunca foi o indivíduo – Abrão, mas a pluralidade de indivíduos – todas as famílias da terra!

Assim, podemos resumir este chamamento como sendo portador de uma dupla essência:

Em primeiro lugar, temos a essência subjetiva que nos mostra as pessoas envolvidas neste chamamento: a) Deus, o que chama e capacita – o Deus capacitador; b) Abrão, aquele que, pela fé, é chamado e capacitado por ouvir e discernir as implicações do chamado; c) Todas as famílias da terra, que é a pluralidade de indivíduos aos quais Deus destina os efeitos do Seu chamamento.


Em segundo lugar, temos a essência objetiva que nos mostra o propósito ou objeto deste chamamento: Preparar o mundo para a vinda de Seu Filho como único e legítimo consumador dos eternos efeitos do Seu chamamento: A salvação dos pecadores!
A. M. Cunha

sábado, 12 de outubro de 2013

UM VISLUMBRE DA TEOLOGIA DO MINISTÉRIO PASTORAL



17 De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja. 18 E, quando se encontraram com ele, disse-lhes: Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, 19 servindo ao Senhor com toda a humildade lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram,20 jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa,21 testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus [Cristo].”
Atos 20:17-21

Nos versículos de 17 a 35 do capítulo 20 do livro de Atos dos Apóstolos, o apóstolo Paulo está falando a líderes da igreja local em Éfeso. Trata-se de um vigoroso tratado de Teologia Pastoral. Paulo revela a natureza hostil do ambiente em que o seu pastorado foi exercido na Ásia. Ele fala que serviu ao Senhor com “lágrimas e provações”. Nesta, por assim dizer, biografia pessoal, Paulo também anuncia como foi o exercício do seu ministério pastoral, mesmo tendo que enfrentar estas provações: “servindo ao Senhor com toda a humildade, [...] jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa”. Quanto ao conteúdo de sua mensagem pastoral, o apóstolo revela o seguinte: “testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus”.
Assim, à luz dos versículos 19, 20 e 21, podemos detectar três importantes palavras que sintetizam o ministério pastoral de Paulo na Ásia: ambiente, forma e conteúdo.

O ambiente onde Paulo exerceu o ministério pastoral foi hostil, pois havia uma turba de judeus que o seguia por onde ele passava. Notemos as palavras do apóstolo: “pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram”. Os capítulos 13 e 14 do livro de Atos dos Apóstolos são uma evidente demonstração desta perseguição que redundou em fuga, expulsão e apedrejamento, nas cidades de Antioquia, Icônio e Listra. Em que pese tais perseguições, que caracterizaram a presença de lágrimas e provações no ambiente onde Paulo exerceu o ministério pastoral, o apóstolo, dominado pelo ardente amor do evangelho, retornava aos mesmos lugares onde havia sido perseguido, expulso e apedrejado para fortalecer “a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé”, como é o caso do seu retorno às cidades de Listra, Icônio e Antioquia registrado em Atos 14:21-22.

A forma como Paulo exerceu o ministério pastoral é surpreendente, uma vez que ele o exerceu em meio a “lágrimas e provações”. É marcante perceber que a perseguição não foi capaz de interferir na forma como o apóstolo exerceu o ministério. Ele o exerceu “com toda a humildade”. O texto evidencia que Ele o exercia servindo ao Senhor. O foco do apóstolo não era servir a homens, mas ao Deus que o chamou. Com esta visão, não havia espaço para arrogância no coração do apóstolo. A humildade o dominava, pois ele sabia o Deus a quem servia. Outro fato que o texto nos transmite de maneira marcante e singular é a perseverança do apóstolo. Notemos as seguintes palavras: “jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa”. Que magnífico! As “lágrimas e provações” não detinham nenhum poder para interromper a trajetória do apóstolo Paulo! Seu ensino, por um lado, era público, mesmo que para isso, colocasse sua vida em risco, e, por outro, era “de casa em casa”, ocasião em que o apóstolo poderia desfrutar de inesquecíveis momentos de comunhão e aconchego com a igreja amada, onde ele estaria protegido pelo ambiente doméstico.

O conteúdo do ensino apostólico era singular e coerente com os ensinos recebidos do Senhor Jesus. Diz-nos o texto que Paulo testificava “tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus”. Este duplo conteúdo revela a essência do evangelho. O arrependimento deve ser anunciado, pois ele se contrapõe ao pecado, que é o grande problema da humanidade. A fé em Jesus é mensagem central do evangelho, pois a salvação pela graça mediante a fé em Cristo é o único remédio para o problema que assola a humanidade. Paulo não se furtava em anunciar este conteúdo. Somente um homem com tal experiência pastoral, como a descrita nos versículos de 19 a 21, possui graça divina para, humilde e perseverantemente, deixar-se ser conduzido pelo Senhor para novos rumos em sua jornada espiritual, mesmo se saber o que lhe aconteceria, senão, que enfrentaria cadeias e tribulações.

A tríplice experiência pastoral descrita nos versículos 19, 20 e 21 [ambiente, forma e conteúdo] recebe, no versículo 22, o acréscimo de uma nova qualidade pastoral: o deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus! Nada, nem mesmo a incerteza quanto ao futuro, ou a certeza quanto às tribulações e cadeias, podiam impedir o apóstolo de se submeter à condução celestial! Esta é, sem dúvida, uma magnífica descrição do ministério pastoral!
O apóstolo, com as seguintes palavras, demonstra sua submissão para deixar-se ser conduzido pelo Senhor: “vou para Jerusalém”. Esta expressão é muito característica de Lucas, autor tanto do Evangelho que possui o seu nome quanto do livro de Atos dos Apóstolos. Para registrar a proximidade do martírio de Cristo ele se utilizava de expressão semelhante, como a que se observa em Lucas 19:28, que assim nos apresenta o caminho de Cristo para a morte: É notável a semelhança com o Senhor Jesus: “ia caminhando adiante, subindo para Jerusalém”. A proximidade da morte, a certeza quanto às tribulações e às cadeias e a incerteza quanto ao que lhe aconteceria em Jerusalém não poderiam arrancar dos lábios do apóstolo as corajosas palavras “vou para Jerusalém”.

A quinta qualidade do ministério pastoral surge na descrição contida no versículo 24: o profundo desejo de completar a carreira e ministério. Nem mesmo a própria vida pode ou deve constituir-se em obstáculo contra tal desejo. O apóstolo diz: “em nada considero a vida preciosa para mim mesmo”. Seu foco é completar a carreira e o ministério. Paulo qualifica o seu ministério da seguinte forma: Um ministério “que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”.
Portanto, as qualidades do ministério do apóstolo Paulo podem ser assim resumidas: [1] Ambiente, [2] forma, [3] conteúdo, [4] deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus e [5] um profundo desejo de completar a carreira e ministério.
É este Paulo, com tais qualificações, que se coloca diante dos presbíteros da igreja em Éfeso para oferecer-lhes os valiosos conselhos que podem ser vistos nos versículos de 25 a 35. O cristão que ama o Senhor e que considera que o ministério pastoral deve ser exercido com uma profunda e bíblica espiritualidade deve ater-se, com a maior diligência possível, às palavras contidas nos versículos 25 a 35.
A. M. Cunha

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A IMPORTÂNCIA DE UM LUGAR DE ORAÇÃO


O início da igreja em Filipos foi marcado pela oração. Assim tendo sido também com relação ao início de nossa vida espiritual: A oração esteve presente. Se a oração foi importante para início de nossa vida espiritual, qual não seria, portanto, sua importância para que a nossa vida com Cristo seja relevante e continuamente inspiradora? Existe uma expressão muito importante que podemos ver quando lemos a seguinte porção da Escritura Sagrada que extraímos do livro de Atos dos Apóstolos.

“No sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido. Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia. (...) Aconteceu que, indo nós para o lugar de oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. (...) Isto se repetia por muitos dias. Então, Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora, saiu.”
Atos 16:13-14, 16 e 18

Esta porção das Escrituras nos apresenta um importante esclarecimento acerca do que se pode chamar de lugar de oração”. Este tema foi abordado por Nosso Senhor quando Ele proferiu o conhecido sermão da montanha [Tenho preferido chamar este sermão de “o sermão do Reino”]. Deste sermão, extraímos a seguinte orientação:

“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.”
Mateus 6:6

Tal orientação nos oferece uma importante visão acerca do lugar de oração, descrevendo-o como muito mais do que um ambiente. Na verdade, esta expressão compreende muito mais uma conduta cristã do que um ambiente cristão. Neste sentido, o texto que lemos no livro de Atos dos Apóstolos nos apresenta duas importantes lições acerca da necessidade de experimentarmos um lugar de oração em nossa vida cristã diária. Vejamos estas lições:

1. O lugar de oração requer de nós uma atitude: Foquemos nossa atenção nas seguintes expressões extraídas do texto de Atos 16: “saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração” (v. 13) e “indo nós para o lugar de oração” (v. 16). Estes textos apresentam uma forte ênfase na conduta na conduta de “sair” e “ir”. Em outras palavras, podemos ver aqui a presença da atitude. Sem uma firme atitude para estabelecermos o hábito de orar, não será possível construir um lugar de oração. Às vezes lutaremos contra nossa agenda particular, nosso desenfreado desejo de desfrutar descanso, nosso cansaço, nossa apatia, nossa frieza espiritual. Esta luta nada mais é do que adotar uma firme postura de estabelecer um lugar de oração.

2. O lugar de oração é um lugar que tornará possível o desfrute das seguintes experiências:

[1] Resistência espiritual: “nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador” (v. 16). Este encontro tem uma forte conotação de oposição e resistência. Assim, o estabelecimento de um lugar de oração fará com que enfrentemos resistência espiritual;

[2] Cooperação divina: “o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (v. 14). A prática de um lugar de oração fará com que tenhamos a rica oportunidade de vivenciarmos experiências com Deus. A cooperação divina é tudo o que precisamos para o desfrute de uma vida espiritual profundamente equilibrada. É confortante saber que podemos contar com o auxílio do Senhor. Tal auxílio, que é constante e efetivo, é o que denomino de “cooperação divina”.
A. M. Cunha

terça-feira, 1 de outubro de 2013

VISLUMBRES DO EVANGELHO EM GÊNESIS 3

Quando analisamos o livro de Gênesis somos conduzidos à percepção de que estamos diante de um livro de sementes. São preciosas as sementes lançadas nesse livro. Uma destas sementes é o evangelho, pois podemos ver suas raízes nesse livro. De forma alguma o evangelho foi uma ideia divina de última hora, ao contrário, o livro de Gênesis lança-nos diante da evidência de que o evangelho sempre esteve presente na mente divina. O capítulo 3 do livro de Gênesis revela, pelo menos, 5 (cinco) importantes diagnósticos quanto ao tema da presença do evangelho na mente divina desde a criação. Vejamos estes diagnósticos:

O diagnóstico de que no estado de queda o homem tentaria construir seus próprios meios para se aproximar de Deus:
“Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.

O diagnóstico de que o estado de queda provocaria a fuga:
“E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.

O diagnóstico de que é Deus quem toma a iniciativa para se aproximar do homem:
“E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?
Gênesis 3:9

O diagnóstico de que a queda tem suas consequências na esfera humana:
“E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás."


O diagnóstico de que Deus é quem provê o meio eficaz para a salvação:
“E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu.