Este poema está baseado no
texto do Evangelho de João 20:19-22, e retrata o momento em que Jesus, após a
Sua ressurreição, aparece a alguns dos Seus apóstolos. Como autor do poema,
coloquei-me como quem estivesse naquele recinto.
A RESSURREIÇÃO E AS SUAS EMOÇÕES
Aquele
dia era noite, havia um pranto incomum:
O
meu Mestre enclausurado no sepulcro de um jardim.
E
eu cá bem escondido, bem trancado e muito aflito,
prisioneiro
do meu medo, algemado e em pavor.
No
secreto desta casa, no cantinho aqui do nada,
ouço
a voz que afugenta o coração da minha fé.
Este
dia já se finda e a esperança já se vai,
foge
sem nenhum remorso e abandona a minha fé.
Embora
morno em minha crença, eis que surge em raio a luz.
Ela
chega bem teimosa no aposento da aflição,
e
em seu brilho a luz me encanta, com seu cheiro faz surgir
o
perfume bem suave que reforça a minha fé.
Curioso
e pela fresta, vejo a fonte dessa luz.
E
com surpresa vejo a cena: o sol se cai sem medo algum!
Ele
voa bem faceiro, em seu voo beija o pó.
Mas
ainda encontra tempo pra dar cor ao horizonte,
num
cenário colorido, antes de sumir no chão.
O
sol, mas que estranho! Corre para a escuridão.
O
ocaso, a penumbra, torna-se do sol a tumba.
Sem
receio e sem temor, o sol se lança noite a dentro,
pois
está certo e acredita que amanhã ressurgirá,
aguerrido
e muito alegre com o seu brilho matinal.
Mas
de repente um brilho surge, é luz maior, mais eternal.
Ela
brota sorrateira no aposento bem fechado:
Sem
a cruz e sem a tumba, é meu Cristo que aparece!
Fulgurante
e majestoso é sol que beija o amanhecer.
Quem
está fora só vê trevas, quem está dentro só vê luz!
O
que está fora não me atrai, já não seduz meu coração.
Já
não olho lá pra fora, pois aqui dentro é meu chão!
É
paz que fica, é paz que chega de mãos dadas com a alegria,
enquanto
a noite engole o sol, o meu Cristo aqui aflora.
Já
não sou mais um prisioneiro do meu medo e do pavor.
E
nesta casa bem fechada, sopra um vento sobre mim,
que
consome os meus temores: É o sopro do Senhor!
Arisvaldo M. Cunha
A. M. Cunha
TEXTO BASE PARA O POEMA
“Ao cair da tarde daquele dia o primeiro da semana trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.”
João
20:19-22