A fonte de
todo olhar está no coração. Se o coração não possuir um bom tesouro, o olhar
humano será drasticamente maléfico. De acordo com as palavras de Jesus, o “homem
bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal
[...]” [Lucas 6:45]. É por isso que podemos concluir que olhar para
Jesus, por mais piedosa que tal atitude possa parecer, nem sempre será uma atitude
tão piedosa assim. Isso pode soar estranho à primeira vista, mas este é um dos
princípios anunciados nos versículos de 1 a 6 do capítulo 3 do Evangelho Segundo
Marcos. De fato, se o olhar humano estiver sob a influência de um coração mau,
esse olhar não poderá ser um piedoso olhar!
O capítulo 3
do Evangelho Segundo Marcos registra que algumas pessoas estavam na sinagoga
olhando para Jesus. E por que eles estavam olhando para Jesus? O texto bíblico
responde: Elas “estavam observando Jesus” para ver se Ele realizaria
alguma cura em dia de sábado, a fim de O acusarem. [Marcos 3:2]. Naquela
sinagoga também estava presente um homem, oculto pela penumbra do anonimato, pois
o seu nome não é mencionado. Esse homem possuía uma das mãos ressequida.
Como vimos, de
acordo com a narrativa bíblica, as pessoas que estavam observando Jesus naquele
dia, não o fizeram porque intentavam receber as virtudes celestiais que Dele
emanavam, mas porque procuravam ocasião de o acusar caso Ele realizasse alguma
cura em dia de sábado.
Algo que deve
ser notado é que, aquele que é alvo do olhar de acusação poderá sentir-se terrivelmente
intimidado, pois esse tipo de olhar possui o poder de rasgar a alma com o
propósito de ampliar a sua dor e intensificar o seu lamento! De acordo com o
texto de Marcos, o olhar de acusação é, na verdade, uma expressão da “dureza
do coração humano” [Marcos 3:5].
Jesus, no
entanto, realiza duas singulares atitudes ao se deparar com esse tipo de situação.
Em primeiro lugar, Jesus olha para aqueles que O contemplavam com os olhos
cheios de acusação, e, vendo-lhe a essência do coração, sentiu-se condoído com
a dureza dos seus corações! Em segundo lugar, Jesus, mesmo estando olhando para
os Seus acusadores, abre a Sua boca para falar com aquele anônimo personagem
que estava enfermo. A eloquência do texto bíblico fala por si só: “E,
olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza do seu
coração, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e foi-lhe
restituída a sua mão, sã como a outra.” [Marcos 3:5].
Ainda que um
ambiente de incredulidade estivesse dominando aquele ambiente, Jesus encontrou
na vida daquele desconhecido enfermo, uma ocasião para, a um só tempo,
confrontar a falsa religiosidade daqueles que O observavam e manifestar Sua
incomparável compaixão para restaurar a saúde daquele enfermo. Ninguém pode ser
considerado anônimo para com Jesus, pois Ele conhece a todos, contempla, como ninguém,
a história de todos os seres humanos, e possui um inesgotável estoque de misericórdia
e compaixão para distribuir com todos aqueles que estão a Sua procura e
necessitam da Sua intervenção.
A. M. Cunha