Algumas
pessoas experimentam momentos nos quais se deparam com o que se pode chamar de “quase
morte”. Escapar com vida num cenário como esse pode ser descrito como uma situação
em decorrência do qual a morte só não se tornou real por um minúsculo detalhe dos
acontecimentos ou, como se diz, “escapou da morte por um triz”.
O
capítulo 11 do Evangelho Segundo João apresenta um magnífico fragmento da história
de Lázaro; porém, com uma significativa diferença em relação àquilo que
acabamos de abordar, pois Lázaro não estava apenas diante de uma situação de “quase
morte” – Ele de fato morreu! O evangelista resume esse episódio com as
seguintes palavras: “Então, Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu”
[João 11:14].
Imagino
que você saiba que o capítulo final da história de qualquer pessoa que se
relaciona com Jesus sempre será surpreendente! Esse princípio também se aplicou
na história de Lázaro, pois a seu respeito, o texto bíblico afirmou o seguinte:
“Saiu aquele que estivera morto” [João 11:44]. Se em relação àquele que
escapa ileso de uma situação de “quase morte”, é comum dizer que essa pessoa
“nasceu de novo”, com muito mais razão se poderia dizer que Lázaro também “nasceu
de novo”, pois ele, literalmente, saiu da morte para a vida!
Quando
aborda o tema da salvação pela graça, o apóstolo Paulo revela sua relevante e
acurada percepção teológica ao afirmar o seguinte: “Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos
em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo” [Efésios 2:4-5]. Sem
dúvida, nesse texto o apóstolo Paulo está abordando o fenômeno espiritual do “novo
nascimento”. E é possível perceber que ele fez uso de dois singulares vocábulos
ao abordar este fenômeno: a “morte” e a “vida”.
Esses
dois vocábulos também permeiam a história da ressurreição de Lázaro, pois ele estava
morto e, portanto, literalmente saiu da “morte” para a “vida”. E é exatamente
isso que analogamente ocorre com o “novo nascimento”: os pecadores, ou seja,
aqueles que estavam mortos em seus delitos e pecados, saem da morte para a
vida!
O
“novo nascimento” tem sido biblicamente compreendido como a ação divina que faz
com que aquele que crê em Jesus Cristo saia da morte para a vida! É por isso
que, com essa perspectiva em mente, torna-se plenamente possível ter uma melhor
compreensão quanto à seguinte afirmação do apóstolo Paulo: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”
[Efésios 2.1].
Num
certo sentido, portanto, pode-se afirmar que Lázaro, um dos membros de uma
família muito amada por Jesus, quando foi ressuscitado tornou-se um
recém-nascido! Seguindo essa linha de pensamento, podemos então analisar a
ressurreição de Lázaro, não apenas como um fato histórico, como de fato o é, mas
também como uma notável figura do novo nascimento.
Feitas
essas considerações, olhemos um pouco mais detidamente para as seguintes palavras
do evangelista João: “Saiu aquele que estivera
morto, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço.
Então, lhes ordenou Jesus: Desatai-o e deixai-o ir.” [João 11:44]
Sem
dúvida, a ressurreição de Lázaro foi um grandioso milagre! Porém, é importante
que saibamos que após aquele milagre, Jesus transmitiu uma instigante ordem
para os que ali estavam: “Desatai-o e deixai-o ir”. Essa ordem de Jesus possui
uma clara justificativa: Lázaro foi ressuscitado, porém, ele ainda tinha os pés
e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço. Isso, com certeza,
causava-lhe sérios embaraços para andar, para movimentar suas mãos e para ver
com perfeição.
Uma
vez que estamos comparando a ressurreição de Lázaro com o “novo nascimento”,
somos levados a concluir que o “novo nascimento”, que também é um grandioso
milagre, sempre apontará para algo mais, pois, quem quer que tenha
experimentado ou venha a experimentar o “novo nascimento”, sempre será
apresentado a uma crucial e intransferível ordem de Jesus para o Seu povo, a
saber: É necessário “desatar e deixar ir” aquele que nasceu de novo! Isso aponta
para o fato de que aquele que nasceu de novo deve ser alvo de um especial
cuidado por parte dos seguidores de Jesus, para que esta nova pessoa adquira a
maturidade necessária e suficiente para experimentar em sua vida um “novo
caráter”, “novas atitudes” e uma “nova visão”.
Muito
provavelmente um recém-nascido – uma criança de colo –, é o melhor exemplo de
alguém que necessita de cuidados especiais para sobreviver, pois não se têm
notícias de nenhum recém-nascido que, para chegar à fase adulta, não tenha tido
a necessidade de receber cuidados de um adulto.
Espiritualmente
falando, a vida espiritual tem o seu início com o “novo nascimento”. Assim,
todo aquele que espiritualmente é um recém-nascido, também necessita do cuidado
dos outros irmãos para sobreviver, de modo que possa experimentar em sua vida esse
“novo caráter”, essas “novas atitudes” e essa “nova visão”.
Olhemos
novamente para a história de Lázaro: Ele saiu “tendo os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço”,
o que demonstra que ele, tão logo ressuscitou, já necessitava de cuidados
especiais. Sem dúvida, com os pés atados, Lázaro não poderia praticar, com
total liberdade de movimentos, o seu “novo andar”. Igualmente, com as mãos
atadas, ele não poderia praticar, com excelência de desempenho, suas “novas
ações”. E por fim, com o rosto envolto num lenço, ele não poderia exercitar,
com uma percepção ampla e profunda, a sua “nova visão”. Foi exatamente por isso
que Jesus ordenou: “Desatai-o e deixai-o
ir” [João 11.44].
Esta
ordem de Jesus é, portanto, decisivamente uma importante figura do discipulado
cristão! Como consequência de um discipulado intencional, bíblico, amoroso e
comprometido, aquele que nasceu de novo receberá os cuidados necessários para
que tenha as indispensáveis condições para experimentar o seu “novo andar”, dedicar-se
à prática de “novas ações” e desfrutar dos gloriosos benefícios que uma “nova
visão” pode proporcionar!
A.
M. Cunha