Os evangelhos podem ser descritos
como a biografia de Jesus Cristo, cujo propósito é narrar a história dos Seus
ensinos e de Suas obras, e o modo como Ele, por Sua morte e ressurreição,
construiu um caminho, conhecido como “boas-novas” ou evangelho, para a salvação
de todo aquele que crê.
Possuindo um conteúdo tão
singular, é de se esperar que a narrativa inicial dos Evangelhos possua
idêntica singularidade. Sendo assim, o Capítulo 1 do Evangelho Segundo Mateus
tem o seu início a partir de uma narrativa cuja essência é a descrição da
genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão [Mateus 1.1]! Alguns
aspectos são fundamentais nesta genealogia:
[1] Em primeiro lugar, a
genealogia de Jesus Cristo, de acordo com Mateus, tem o seu início com Abraão,
conhecido como o Pai da fé [Romanos 4.11]. Portanto, pode-se afirmar que a fé é
o primeiro aspecto da genealogia de Jesus Cristo;
[2] O segundo aspecto da
genealogia apresentada por Mateus é a inclusão de Davi, o mais conhecido dos
reis do povo de Deus. Por conseguinte, é razoável afirmar que o reino é o
segundo aspecto desta genealogia;
[3] Por fim, o terceiro aspecto da
genealogia de Jesus Cristo, conforme apresentada pelo evangelista Mateus, é o
Cativeiro Babilônico. Por isso se diz: “no tempo do exílio na Babilônia. Depois
do exílio na Babilônia [...] desde Davi até ao exílio na Babilônia [...] desde
o exílio na Babilônia até Cristo”. É consenso que o Cativeiro foi um dos mais
devastadores episódios da história do povo de Deus! No entanto, vê-se que nem
mesmo os cinzentos anos do cativeiro foram capazes de impedir o nascimento
daquele que haveria de ser a essência da mensagem do Evangelho!
Por ser a biografia de Jesus
Cristo, o Evangelho Segundo Mateus descreve o modo sobrenatural com que se deu o
Seu nascimento: “achou-se grávida pelo Espírito Santo” [Mateus 1.18]. O
Evangelista Lucas é muito específico em sua descrição acerca deste nascimento
sobrenatural: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te
envolverá com a sua sombra” [Lucas 1.35]. O nascimento de Jesus Cristo foi
marcado pela “presença” do Espírito Santo e, a partir desta “presença”, o
“poder do Altíssimo” entrou em ação! A consequência desta “presença” e da ação
do “poder do Altíssimo” é o que Mateus descreve como “achou-se grávida pelo
Espírito Santo”. Eis o modo sobrenatural com que foi concebido Jesus Cristo! E
não poderia ser diferente, pois se Sua vida e obra foram sobrenaturais [para
que assim Ele pudesse assegurar salvação a todo o que Nele cresse], também
deveria ser sobrenatural o Seu nascimento!
É importante observar ainda, que
o sobrenatural não esteve restrito diretamente à pessoa de Jesus Cristo, pois,
à luz do capítulo 1 do Evangelho Segundo Mateus, o sobrenatural tocou a vida de
personagens secundários que interagiram com Jesus Cristo: O primeiro destes
personagens foi Maria que, como dito acima, “achou-se grávida pelo Espírito
Santo”. Mas não somente ela foi tocada pelo sobrenatural, pois o poder divino, por
meio de um sonho inspirado, tocou José na esquina da vida, para anunciar-lhe
que não havia razões para temer receber Maria como mulher, pois sua gravidez
fora proveniente da ação sobrenatural do Espírito Santo [Mateus 1.20].
Percebe-se aqui, no caso de José,
que a ação sobrenatural veio para lhe instruir, e não apenas isso, pois esta instrução
sobrenatural conduziu-o a oferecer uma resposta de obediência, uma vez que ele,
ao despertar do sono, “fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua
mulher” [Mateus 1.24].
A.
M. Cunha