Seguir
Jesus é um extraordinário projeto de vida. Ao mencioná-lo, Jesus faz uso do
vocábulo grego θέλω [thelo], traduzido como “quer”. Este vocábulo grego significa: “querer, ter em mente, pretender, estar
resolvido ou determinado, propor-se, desejar, ter vontade de”. Por vezes,
este vocábulo é usado como sinônimo de: “gostar,
gostar de fazer algo, gostar muito de fazer, ter prazer em, ter satisfação”.
Os dois são perfeitamente cabíveis aqui, inclusive, sendo usados conjuntamente,
para descrever que se alguém se propõe seguir a Cristo, o faz porque tem prazer
e satisfação em segui-Lo.
No
entanto, o chamado de Jesus para o discipulado veio a nós com a seguinte
estrutura: [a] Desejar seguir; [b] negar a si mesmo; [c] tomar a cruz; e [d]
efetivamente seguir. Noutras palavras, a partir dos quatro elementos desta
estrutura, podemos dizer o seguinte: Todo aquele que tem o desejo de seguir a
Cristo, deve negar-se a si mesmo e tomar a sua cruz, caso deseje efetivamente
segui-Lo. Destes quatro elementos, quero ater-me ao seguinte: Tomar a cruz. O
texto literalmente diz: “tome a sua cruz”,
do grego ἀράτω τὸν σταυρὸν αὐτοῦ [aratō ton stauron autou]. Esta frase, “tome a sua cruz”, possui uma natureza singular,
única e intransferível. Desejo dedicar algumas palavras refletindo sobre o seu
significado neste texto das Escrituras.
Qual
o papel da frase “tome a sua cruz”
neste versículo? Particularmente, penso
que esta frase concede ao ato de “negar-se
a si mesmo” as qualidades de fidelidade e perseverança. Deixe-me tentar ser
um pouco mais específico. Noutras palavras, isto significa o seguinte: Quem
deseja seguir a Jesus, somente poderá efetivamente fazê-lo, se e somente se, for
fiel e perseverante na atitude de negar a si mesmo!
Quando
estas palavras foram proferidas por Jesus, a sociedade judaica estava sob o
domínio do Império Romano. Naqueles dias, a cruz era um modo de execução cruel
e doloroso. Significava que aquele que a carregava tinha diante de si uma morte
certa, cruel e inevitável. Portanto a cruz era uma representação da morte. Ao
fazer uso desta expressão, penso que Jesus pretendia dizer algo mais ou menos
assim: Caso você deseje seguir-me, você somente poderá efetivamente fazê-lo se,
e somente se, negar-se a si mesmo. Mas, negar-se a si mesmo não poderá ser
feito de qualquer maneira, você deverá ser fiel e perseverante quando estiver
negando a si mesmo, e deverá fazê-lo até o último dia da sua vida.
Seguir
a Cristo é, portanto, uma atitude para a vida toda – o mais extraordinário projeto para a
vida humana! Um condenando à morte de cruz pelo Império Romano sujeitava-se à
zombaria e ao escárnio enquanto carregava a sua cruz, que era o seu instrumento
particular de execução. A força da lei romana não lhe permitia abandonar a
cruz, Ele deveria carregá-la com “fidelidade” e “perseverança”. O discípulo de
Cristo, porém, deve carregar a sua cruz com fidelidade e perseverança, não pela
força da lei dos homens, para pelo encorajamento e capacitação que advêm da lei
do amor de Cristo!
Permita-me
construir uma reflexão adicional. O discípulo de Cristo deve carregar a sua
cruz, profundamente influenciado e capacitado pelo poder que emana da Cruz de
Cristo! A cruz que carregamos não é, nem de perto, um fragmento da Cruz de
Cristo! Mas somente poderemos carregar a nossa cruz se formos capacitados pelo
poder que emana da Cruz de Cristo! Portanto, penso que a Cruz de Cristo é o
eixo central que alinha a nossa vida para que tenhamos toda a condição
necessária e indispensável para seguirmos a Cristo, pois ela é o dínamo que
libera o poder necessário para que possamos efetivamente segui-Lo. Este poder é
o único que concederá ao homem a condição necessária e indispensável para
efetivamente seguir a Cristo.
A.
M. Cunha