O texto de I Coríntios 14:26 parece sugerir o modo
comum de uma reunião dos cristãos primitivos. Vejamos o que nos anuncia a
mencionada porção das Escrituras:
“Que fazer, pois, irmãos? Quando
vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra
língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.”
I Coríntios 14:26
Extrai-se do texto que as reuniões propiciavam aos
cristãos uma tríplice experiência: 1) Louvor e adoração; 2) Ensino; e 3)
Manifestação dos dons espirituais. O louvor e adoração estão contidos no
vocábulo “salmo”; o ensino, por sua vez, revela-se no vocábulo “doutrina” [quem
sabe, até mesmo no vocábulo “revelação”]; e, por fim, a manifestação dos dons
espirituais encontra-se prevista nos vocábulos “língua”, “interpretação” [quem
sabe, até mesmo no vocábulo “revelação”].
De todo modo, é importante perceber que esta
tríplice experiência não está restrita a apenas um membro do Corpo de Cristo,
mas a uma pluralidade de membros. Isto pode ser percebido nos vocábulos “um”,
“outro”, “este”, “aquele” e, “ainda outro”. Todos os membros têm sua função no
Corpo de Cristo, como nos diz Paulo, “assim
como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma
função,” [Romanos 12:4]. Não se pode, no entanto, esquecer o propósito de
tudo o que se vê no texto acima: “Seja
tudo feito para edificação”. Assim, é possível perceber que os dons
espirituais são importantes porque promovem a edificação da igreja. Em
decorrência, devem ser cultivados numa perspectiva de edificação do Corpo de
Cristo.
Nunca é demais lembrar que a disciplina prática
para o exercício dos dons espirituais parece estar indicada nos capítulos 12,
13 e 14 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Estes três capítulos sugerem
três importantes aspectos práticos para o bíblico exercício dos dons
espirituais, a saber:
1) Capítulo 12 – A lista, muito provavelmente não
exaustiva, de dons nele contida, aponta para a necessidade de conhecimento dos
dons espirituais. Assim, este capítulo anuncia o primeiro aspecto prático
acerca dos dons espirituais: a necessidade de conhecê-los;
2) Capítulo 14 – A narrativa contida neste capítulo
é um veemente ensino acerca do modo como os dons devem ser exercidos. Desta
forma, tal narrativa anuncia o segundo aspecto prático acerca dos dons
espirituais: a forma como devem ser exercidos; e
3) Capítulo 13 – A descrição do amor, como aquele
que permanece e que oferece sentido e substância aos dons, aponta para o amor
como sendo a motivação do conhecimento dos dons espirituais e da forma como
devem ser exercidos. Assim, este capítulo revela o terceiro aspecto prático
acerca dos dons espirituais: a motivação para o seu conhecimento e exercício é
o amor.
Por fim, a disciplina prática para o exercício dos
dons espirituais não se restringe apenas à narrativa contida nos capítulos 12,
13 e 14 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Muitas passagens da Escritura
apontam para esta disciplina de modo mais prático. Observemos, por exemplo, a
seguinte orientação do apóstolo Pedro:
“Servi uns aos outros, cada um
conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de
Deus.”
I Pedro 4:10
Esta narrativa bíblica nos oferece as seguintes
diretrizes acerca da prática dos dons espirituais: 1) a quem servir; 2) como
servir; e 3) com que qualidade servir. No item 1, vemos que a prática dos dons
espirituais deve ser exercida com mutualidade. Tal conclusão decorre da
expressão “uns aos outros”. No item
2, percebemos que a prática dos dons espirituais deve ser exercida conforme do
dom recebido. Pelo item 3, por fim, percebemos que a prática dos dons
espirituais deve ser exercida de tal modo que os servos de Deus se revelem “como
bons despenseiro da multiforme graça de Deus”.
Todos estes textos apontam para a realidade de que
a prática dos dons espirituais deve ser exercida num contexto de edificação da
igreja.
A.
M. Cunha
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