segunda-feira, 22 de junho de 2009

A RESSURREIÇÃO E AS SUAS EMOÇÕES

Este poema está baseado no texto do Evangelho de João 20:19-22, e retrata o momento em que Jesus, após a Sua ressurreição, aparece a alguns dos Seus apóstolos. Como autor do poema, coloquei-me como quem estivesse naquele recinto.


A RESSURREIÇÃO E AS SUAS EMOÇÕES  


Aquele dia era noite, havia um pranto incomum:

O meu Mestre enclausurado no sepulcro de um jardim.

E eu cá bem escondido, bem trancado e muito aflito,

prisioneiro do meu medo, algemado e em pavor.

No secreto desta casa, no cantinho aqui do nada,

ouço a voz que afugenta o coração da minha fé.

 

Este dia já se finda e a esperança já se vai,

foge sem nenhum remorso e abandona a minha fé.

Embora morno em minha crença, eis que surge em raio a luz.

Ela chega bem teimosa no aposento da aflição,

e em seu brilho a luz me encanta, com seu cheiro faz surgir

o perfume bem suave que reforça a minha fé.

 

Curioso e pela fresta, vejo a fonte dessa luz.

E com surpresa vejo a cena: o sol se cai sem medo algum!

Ele voa bem faceiro, em seu voo beija o pó.

Mas ainda encontra tempo pra dar cor ao horizonte,

num cenário colorido, antes de sumir no chão.

 

O sol, mas que estranho! Corre para a escuridão.

O ocaso, a penumbra, torna-se do sol a tumba.

Sem receio e sem temor, o sol se lança noite a dentro,

pois está certo e acredita que amanhã ressurgirá,

aguerrido e muito alegre com o seu brilho matinal.

 

Mas de repente um brilho surge, é luz maior, mais eternal.

Ela brota sorrateira no aposento bem fechado:

Sem a cruz e sem a tumba, é meu Cristo que aparece!

Fulgurante e majestoso é sol que beija o amanhecer.

Quem está fora só vê trevas, quem está dentro só vê luz!

 

O que está fora não me atrai, já não seduz meu coração.

Já não olho lá pra fora, pois aqui dentro é meu chão!

É paz que fica, é paz que chega de mãos dadas com a alegria,

enquanto a noite engole o sol, o meu Cristo aqui aflora.

Já não sou mais um prisioneiro do meu medo e do pavor.

E nesta casa bem fechada, sopra um vento sobre mim,

que consome os meus temores: É o sopro do Senhor!

 Arisvaldo M. Cunha

A. M. Cunha

 

 TEXTO BASE PARA O POEMA

 “Ao cair da tarde daquele dia o primeiro da semana trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.”

João 20:19-22