sábado, 15 de junho de 2019

MEDITAÇÕES NO EVANGELHO DE JOÃO - Capítulo 6


Sem dúvida, a capacidade de identificar potencialidades, principalmente em situações de crise com o objetivo de superá-la, é uma notável e prodigiosa arte que a humanidade pode desfrutar! Esse particular aspecto da dinâmica da vida possui importância singular no processo de liderança eficaz e transformadora.

O capítulo 6 do Evangelho Segundo João narra um desses momentos, onde a descoberta de potencialidades tornou-se numa ferramenta muito útil para a solução de uma crise que, sorrateiramente, se aproximava. Refiro-me àquela narrativa bíblica onde a necessidade de alimentar uma numerosa multidão, que seguia Jesus, tornou-se algo urgente e inadiável [João 6.2 e 5]! Esta necessidade havia sido destacada por Jesus com as seguintes palavras: “Onde compraremos pães para lhes dar a comer?” [João 6:5].

O evangelista descreve a real motivação daquela multidão fazendo uso das seguintes palavras: “Seguia-o numerosa multidão, porque tinham visto os sinais que ele fazia na cura dos enfermos” [João 6:2]. Como se pode observar, não se tratava de uma multidão sedenta pelos ensinamentos de Jesus, mas, de uma multidão cujo interesse era, unicamente, receber os gloriosos milagres realizados por Jesus. O Cristo que estava diante daquela multidão já havia sido descrito neste Evangelho como sendo “cheio de graça e de verdade” [João 1:14]. Sendo assim, Jesus não é um portador apenas de graça para os Seus ouvintes, mas Ele é, também, o legítimo proprietário da verdade. O pleno desfrute desses atributos, tanto da graça quanto da verdade, requer, não apenas o recebimento da “graça”, mas a obediência à “verdade”!

Em resposta à pergunta feita por Jesus, um dos Seus discípulos chamado André informou o seguinte: “Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos” [João 6.9]. Aquele discípulo foi capaz de identificar algum nível de potencialidade na vida daquele rapaz. No entanto, sua fé ainda não estava aperfeiçoada o suficiente para crer que aqueles pães e aqueles peixinhos seriam o bastante para aquela multidão. Em sua incredulidade André disse: “mas isto que é para tanta gente?” [João 6.9].

É extraordinário saber que é possível identificar potencialidades ainda que a fé não tenha sido suficientemente aperfeiçoada! Nunca é demais destacar que uma potencialidade descoberta nada será, a menos que seja entregue nas mãos de Jesus! Essa é a descrição contida do texto de João 6.11, que nos diz: “Então, Jesus tomou os pães e [...] também igualmente os peixes”. Que as nossas potencialidades, por mais tacanhas que venham a ser, sejam entregues nas mãos daquele que é “cheio de graça e de verdade”!

O resultado obtido quando uma potencialidade é colocada nas mãos de Jesus é algo extraordinariamente magnífico! O texto bíblico diz o seguinte: “E, quando já estavam fartos” [João 6.12]! A fartura é o destino das potencialidades que são entregues nas mãos de Jesus! O Cristo que viu a fome que se aproximava, foi suficientemente poderoso para suplantá-la, abrindo espaço para a fartura! Que se levantem novos “Andrés” em nossa geração e que as potencialidades descobertas sejam lançadas aos pés daquele que pode transformar a fome em fartura!

A. M. Cunha

sexta-feira, 14 de junho de 2019

MEDITAÇÕES NO EVANGELHO DE JOÃO - Capítulo 5


Perguntas cujo propósito é descobrir qual é o real desejo de alguém para um determinado momento são normalmente respondidas com uma clara, expressa e direta manifestação de vontade. Foi isso, por exemplo, o que aconteceu com o cego Bartimeu, quando Jesus lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?”. A resposta de Bartimeu manifestou claramente sua vontade: “Mestre, que eu torne a ver” [Marcos 10.51].

 

No entanto, o Capítulo 5 do Evangelho Segundo João apresenta outra forma de responder a esse tipo de pergunta, onde o que se deseja é descobrir a vontade específica de alguém para um determinado momento.

 

Quando estava em Jerusalém para uma das festas dos judeus e percorria, nos arredores da Porta das Ovelhas, os pavilhões do tanque de Betesda, Jesus encontrou-se com um paralítico que estava enfermo há 38 anos. Durante esse encontro, Jesus fez àquele paralítico a seguinte pergunta, cujo propósito era descobrir a sua real vontade para aquele momento: “Queres ser curado?” [João 5.6].

A resposta naturalmente esperada diante de tais perguntas deveria ser uma clara e expressa manifestação de vontade. O paralítico poderia ter dito: “Sim, Senhor, quero ser curado!”. Mas essa não foi sua resposta direta. O paralítico fez uso das seguintes palavras para responder à pergunta feita por Jesus: “Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.” [João 5.7].

Observe que o paralítico, nessa resposta, não manifestou clara e diretamente sua vontade, muito embora, indiretamente sua resposta tenha expressado o desejo de ser curado.

Vejamos o que ele revelou em sua resposta:

[1] Em primeiro lugar, ele revelou que estava sozinho, pois, disse ele, “não tenho ninguém que me ponha no tanque”. Até este ponto de sua resposta, não havia a expressão de uma vontade clara e específica de ser curado; o que ele revelou, até este momento, porém, foi o seu estado de solidão;

[2] Em segundo lugar, a partir da resposta dada por aquele paralítico, concluímos que ele, não obstante estivesse sozinho, sua postura não havia sido a de um homem envolto num deplorável estado de autocomiseração, de lamentação ou queixume. Ao contrário, em suas palavras aquele homem demonstrou que, em vez de ficar lamentando o seu estado de paralisia, ele escolheu agir, ainda que nos limites de suas possibilidades. Eis o que ele disse: “enquanto eu vou”. Ele era alguém que, embora fosse paralítico, e, portanto, vivesse num estado de paralisia física, sua alma não se achava algemada, pois ele estava internamente em movimento.

Como afirmamos acima, aquele homem, em sua resposta, não manifestou expressamente a vontade de ser curado. No entanto, podemos ver que ele revelou de forma veemente, porém implícita, que ele realmente possuía uma real vontade de ser libertado do seu estado de paralisia física. Quando afirmou “enquanto eu vou”, ele estava, em outras palavras, demonstrando que, de fato, sua vontade era a de ser curado.

Assim, embora ele não tenha respondido à pergunta de Jesus com uma clara e expressa manifestação da vontade, isso não significava, porém, que ele não possuía, de fato, a vontade de ser curado! Ao contrário, em sua resposta, ele demonstrou sua vontade de ser curado com a ação de ir ao encontro das águas. Dito de outra forma, aquele paralítico não manifestou sua vontade de ser curado com palavras, mas com atitudes! Aquela foi, sem dúvida, uma resposta singular!

Desta narrativa bíblica colhemos o precioso ensinamento de que as nossas atitudes, não raro, demonstram nossa vontade, ainda que não usemos palavras para expressá-la! Se olharmos atentamente para os espaços mais ocultos de nossa alma, pode até ser que não consigamos contemplar uma clara expressão da nossa vontade. Mas isso não significa que ela não esteja lá. De fato, ela está lá, ainda que profundamente escondida. Porém, se atentamente olharmos para o complexo ambiente das nossas atitudes, contemplaremos a nossa real vontade!

Que nossas atitudes sejam o reflexo de corações impulsionados, não para os tanques da existência humana, mas para o Supremo arquiteto do Universo, Aquele, que com o sopro da Sua boca, criou todas as coisas e todas as fontes que temos à nossa disposição. O Nosso Deus é, portanto, poderoso para soprar em nossa existência estática e fazer com que entremos em movimento nas águas do rio do Seu infinito amor!

A. M. Cunha

domingo, 9 de junho de 2019

MEDITAÇÕES NO EVANGELHO DE JOÃO - Capítulo 4

Ele não era quem eu pensava que fosse! Esta frase, por vezes, é pronunciada logo após uma angustiante e profunda decepção com uma determinada pessoa! Mas, e se essa frase não fosse fruto de uma decepção, mas viesse a ser pronunciada logo após uma fascinante e reveladora descoberta? De fato, é plenamente possível que venhamos a descobrir que alguém seja muito diferente daquela desagradável percepção que inicialmente nutríamos a seu respeito. Nesse caso, estaríamos diante, não de uma cruel e lamentável decepção, mas de uma fascinante descoberta, uma agradável e maravilhosa surpresa!

O capítulo 4 do Evangelho Segundo João é extremamente revelador quando a este ponto. Este capítulo narra a história do encontro de Jesus com a mulher samaritana. Mas não estamos diante de um encontro qualquer, pois a equivocada percepção daquela mulher com respeito a Jesus foi lentamente sendo desconstruída à medida que o encontro ia prosseguindo. Vejamos como se deu esta progressão:

[1] Em primeiro lugar, aquela mulher entendia que havia uma considerável barreira racial que jamais permitiria que ela conversasse com Jesus. Isto pode ser visto nas seguintes palavras que ela pronunciou: “Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana [...]? [João 4.9];

[2] Em segundo lugar, aquela mulher julgava que Jesus não possuía nenhum recurso, de modo que Ele, aos olhos daquela mulher, jamais poderia prestar-lhe qualquer auxílio ou contribuição para sua existência. Ela afirmou o seguinte: “O senhor não tem com que tirar a água, e o poço é fundo” [João 4.11];

[3] Em terceiro lugar, aquela mulher considerava Jacó em mais alta conta do que Jesus, de modo que ela o considerava muito maior e muito mais digno de respeito do que Jesus. Nesse sentido ela afirmou o que se segue: “És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço [...]? [João 4.12];

[4] Em quarto lugar, aquela mulher, agora sob o impacto daquele encontro e das transformadoras palavras proferidas por Jesus, começou a descobrir que Ele não era quem ela inicialmente pensava. Seu conceito a respeito Dele mudou! Sua percepção a respeito Daquele que com ela dialogava foi radicalmente influenciado pelo transformador conteúdo de Suas palavras. Antes mesmo que aquele diálogo terminasse o evangelista João registra as seguintes palavras: “Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta” [João 4.19];

[5] Em quinto lugar, aquela mulher, cada vez mais impactada por aquele poderoso encontro, começa a cogitar a possibilidade de Jesus poder ser o Cristo, o prometido e aguardado Messias. Quanto a este ponto, o evangelista menciona o seguinte: “Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?” [João 4.28-29];

[6] Em sexto lugar, aquela mulher não apenas percebeu que Jesus era diferente de tudo daquilo que ela inicialmente pensava a seu respeito, como também, em decorrência do radical e transformador impacto de seu encontro com Cristo, ela tornou-se uma vibrante testemunha de Jesus. A Bíblia diz o seguinte: “Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher” [João 4.39].

Um verdadeiro encontro com Jesus desconstrói todo pensamento equivocado que se tenha tido sobre Ele! Todo pensamento que se tenha acerca de Jesus, sem que se tenha tido um encontro com ele, será equivocado! O encontro com Jesus sempre será transformador! Aquele que com Ele se encontra, desfrutará de uma das mais revolucionárias experiências da existência humana: A experiência de saber que Cristo é muito mais do que tudo aquilo que inicialmente pensávamos a Seu respeito!

A. M. Cunha