segunda-feira, 9 de maio de 2022

EVANGELHO SEGUNDO LUCAS - CAPÍTULO 10

O capítulo 10 do Evangelho Segundo Lucas reserva-nos a extraordinária narrativa conhecida como “A Parábola do Bom Samaritano”, contada por Jesus como forma de ilustrar o mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” [Lucas 10:27]. Portanto, a essência desta parábola é demonstrar o verdadeiro amor fraternal!

O texto desta magnífica parábola está contido em Lucas 10:29-37, onde somos apresentados à seguinte narrativa: Um certo viajante foi violentamente agredido por salteadores que o deixaram quase morto numa estrada. Jesus narra que algumas pessoas viram o viajante em seu deplorável estado; porém, nada fizeram para ajudá-lo! Logo em seguida, Jesus introduz outro personagem à parábola, um “Certo samaritano”. Ele era anônimo e permaneceu anônimo durante toda a narrativa, tão anônimo quanto o viajante desta parábola. Sua postura, contudo, foi diferente! O texto torna evidente que o samaritano viu aquele viajante em seu deplorável estado e, diferentemente das outras pessoas, “compadeceu-se dele” [Lucas 10:33]. O vocábulo grego traduzido como compadecer-se é σπλαγχνίζομαι [splagchnizomai], que literalmente significa “ser movido pelas entranhas”.  Esta expressão era muito usada para descrever as afeições humanas, pois era senso comum naquela época que a sede do amor e da piedade estava nas nossas entranhas.

A parábola, portanto, apresenta duas classes de pessoas: Os que não se compadecem e os que se compadecem. Aqueles, lamentavelmente, são maioria. No caso da parábola, foram duas pessoas que não demonstraram nenhuma compaixão para com o necessitado viajante; ao passo que apenas uma compadeceu-se daquele viajante. O texto parece sugerir, portanto, que a prática do amor fraternal não é algo natural para a maioria das pessoas! Foi por isso que Jesus, logo no início da parábola, tornou evidente o fracasso humano para demonstrar o verdadeiro amor fraternal, especialmente quando aquele que deve ser amado é um desconhecido, uma pessoa que não possui nenhum vínculo de afinidade com aquele que é chamado a amar!

Não podemos nos esquecer de um importante detalhe desta parábola: Jesus a contou para responder à seguinte pergunta feita por um mestre da lei: “Quem é o meu próximo?” [Lucas 10:29]. A essência desta parábola é demonstrar o verdadeiro amor fraternal! É por isso que podemos afirmar que, no contexto desta parábola, nós somos chamados a praticar o amor fraternal para com os necessitados, mesmo que não os conheçamos, mesmo que não tenhamos qualquer vínculo de afinidade com eles!

A parábola tem o seu início com a seguinte pergunta: “Quem é o meu próximo?”. No corpo da parábola Jesus gentilmente demonstra que o nosso próximo é todo aquele que deve ser alcançado com a nossa misericórdia! E o final desta parábola apresenta um desafiador convite: “Vai e procede tu de igual modo.” [Lucas 10:37]. Somos, portanto, desafiados a fazer como aquele anônimo samaritano: Devemos estar o mais próximo que pudermos para ajudar os necessitados e ser o mais anônimo que pudermos para não atrairmos atenção para as nossas próprias ações, por melhores que sejam e por mais bem-intencionadas que sejam!

A. M. Cunha