quinta-feira, 22 de maio de 2014

UM VISLUMBRE DA TEOLOGIA BÍBLICA DOS DONS ESPIRITUAIS


O texto de I Coríntios 14:26 parece sugerir o modo comum de uma reunião dos cristãos primitivos. Vejamos o que nos anuncia a mencionada porção das Escrituras:

“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.”
I Coríntios 14:26

Extrai-se do texto que as reuniões propiciavam aos cristãos uma tríplice experiência: 1) Louvor e adoração; 2) Ensino; e 3) Manifestação dos dons espirituais. O louvor e adoração estão contidos no vocábulo “salmo”; o ensino, por sua vez, revela-se no vocábulo “doutrina” [quem sabe, até mesmo no vocábulo “revelação”]; e, por fim, a manifestação dos dons espirituais encontra-se prevista nos vocábulos “língua”, “interpretação” [quem sabe, até mesmo no vocábulo “revelação”].

De todo modo, é importante perceber que esta tríplice experiência não está restrita a apenas um membro do Corpo de Cristo, mas a uma pluralidade de membros. Isto pode ser percebido nos vocábulos “um”, “outro”, “este”, “aquele” e, “ainda outro”. Todos os membros têm sua função no Corpo de Cristo, como nos diz Paulo, “assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função,” [Romanos 12:4]. Não se pode, no entanto, esquecer o propósito de tudo o que se vê no texto acima: “Seja tudo feito para edificação”. Assim, é possível perceber que os dons espirituais são importantes porque promovem a edificação da igreja. Em decorrência, devem ser cultivados numa perspectiva de edificação do Corpo de Cristo.

Nunca é demais lembrar que a disciplina prática para o exercício dos dons espirituais parece estar indicada nos capítulos 12, 13 e 14 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Estes três capítulos sugerem três importantes aspectos práticos para o bíblico exercício dos dons espirituais, a saber:

1) Capítulo 12 – A lista, muito provavelmente não exaustiva, de dons nele contida, aponta para a necessidade de conhecimento dos dons espirituais. Assim, este capítulo anuncia o primeiro aspecto prático acerca dos dons espirituais: a necessidade de conhecê-los;

2) Capítulo 14 – A narrativa contida neste capítulo é um veemente ensino acerca do modo como os dons devem ser exercidos. Desta forma, tal narrativa anuncia o segundo aspecto prático acerca dos dons espirituais: a forma como devem ser exercidos; e

3) Capítulo 13 – A descrição do amor, como aquele que permanece e que oferece sentido e substância aos dons, aponta para o amor como sendo a motivação do conhecimento dos dons espirituais e da forma como devem ser exercidos. Assim, este capítulo revela o terceiro aspecto prático acerca dos dons espirituais: a motivação para o seu conhecimento e exercício é o amor.

Por fim, a disciplina prática para o exercício dos dons espirituais não se restringe apenas à narrativa contida nos capítulos 12, 13 e 14 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Muitas passagens da Escritura apontam para esta disciplina de modo mais prático. Observemos, por exemplo, a seguinte orientação do apóstolo Pedro:

“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.”
I Pedro 4:10

Esta narrativa bíblica nos oferece as seguintes diretrizes acerca da prática dos dons espirituais: 1) a quem servir; 2) como servir; e 3) com que qualidade servir. No item 1, vemos que a prática dos dons espirituais deve ser exercida com mutualidade. Tal conclusão decorre da expressão “uns aos outros”. No item 2, percebemos que a prática dos dons espirituais deve ser exercida conforme do dom recebido. Pelo item 3, por fim, percebemos que a prática dos dons espirituais deve ser exercida de tal modo que os servos de Deus se revelem “como bons despenseiro da multiforme graça de Deus”.

Todos estes textos apontam para a realidade de que a prática dos dons espirituais deve ser exercida num contexto de edificação da igreja.
A. M. Cunha