sábado, 12 de outubro de 2013

UM VISLUMBRE DA TEOLOGIA DO MINISTÉRIO PASTORAL



17 De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja. 18 E, quando se encontraram com ele, disse-lhes: Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, 19 servindo ao Senhor com toda a humildade lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram,20 jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa,21 testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus [Cristo].”
Atos 20:17-21

Nos versículos de 17 a 35 do capítulo 20 do livro de Atos dos Apóstolos, o apóstolo Paulo está falando a líderes da igreja local em Éfeso. Trata-se de um vigoroso tratado de Teologia Pastoral. Paulo revela a natureza hostil do ambiente em que o seu pastorado foi exercido na Ásia. Ele fala que serviu ao Senhor com “lágrimas e provações”. Nesta, por assim dizer, biografia pessoal, Paulo também anuncia como foi o exercício do seu ministério pastoral, mesmo tendo que enfrentar estas provações: “servindo ao Senhor com toda a humildade, [...] jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa”. Quanto ao conteúdo de sua mensagem pastoral, o apóstolo revela o seguinte: “testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus”.
Assim, à luz dos versículos 19, 20 e 21, podemos detectar três importantes palavras que sintetizam o ministério pastoral de Paulo na Ásia: ambiente, forma e conteúdo.

O ambiente onde Paulo exerceu o ministério pastoral foi hostil, pois havia uma turba de judeus que o seguia por onde ele passava. Notemos as palavras do apóstolo: “pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram”. Os capítulos 13 e 14 do livro de Atos dos Apóstolos são uma evidente demonstração desta perseguição que redundou em fuga, expulsão e apedrejamento, nas cidades de Antioquia, Icônio e Listra. Em que pese tais perseguições, que caracterizaram a presença de lágrimas e provações no ambiente onde Paulo exerceu o ministério pastoral, o apóstolo, dominado pelo ardente amor do evangelho, retornava aos mesmos lugares onde havia sido perseguido, expulso e apedrejado para fortalecer “a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé”, como é o caso do seu retorno às cidades de Listra, Icônio e Antioquia registrado em Atos 14:21-22.

A forma como Paulo exerceu o ministério pastoral é surpreendente, uma vez que ele o exerceu em meio a “lágrimas e provações”. É marcante perceber que a perseguição não foi capaz de interferir na forma como o apóstolo exerceu o ministério. Ele o exerceu “com toda a humildade”. O texto evidencia que Ele o exercia servindo ao Senhor. O foco do apóstolo não era servir a homens, mas ao Deus que o chamou. Com esta visão, não havia espaço para arrogância no coração do apóstolo. A humildade o dominava, pois ele sabia o Deus a quem servia. Outro fato que o texto nos transmite de maneira marcante e singular é a perseverança do apóstolo. Notemos as seguintes palavras: “jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa”. Que magnífico! As “lágrimas e provações” não detinham nenhum poder para interromper a trajetória do apóstolo Paulo! Seu ensino, por um lado, era público, mesmo que para isso, colocasse sua vida em risco, e, por outro, era “de casa em casa”, ocasião em que o apóstolo poderia desfrutar de inesquecíveis momentos de comunhão e aconchego com a igreja amada, onde ele estaria protegido pelo ambiente doméstico.

O conteúdo do ensino apostólico era singular e coerente com os ensinos recebidos do Senhor Jesus. Diz-nos o texto que Paulo testificava “tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus”. Este duplo conteúdo revela a essência do evangelho. O arrependimento deve ser anunciado, pois ele se contrapõe ao pecado, que é o grande problema da humanidade. A fé em Jesus é mensagem central do evangelho, pois a salvação pela graça mediante a fé em Cristo é o único remédio para o problema que assola a humanidade. Paulo não se furtava em anunciar este conteúdo. Somente um homem com tal experiência pastoral, como a descrita nos versículos de 19 a 21, possui graça divina para, humilde e perseverantemente, deixar-se ser conduzido pelo Senhor para novos rumos em sua jornada espiritual, mesmo se saber o que lhe aconteceria, senão, que enfrentaria cadeias e tribulações.

A tríplice experiência pastoral descrita nos versículos 19, 20 e 21 [ambiente, forma e conteúdo] recebe, no versículo 22, o acréscimo de uma nova qualidade pastoral: o deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus! Nada, nem mesmo a incerteza quanto ao futuro, ou a certeza quanto às tribulações e cadeias, podiam impedir o apóstolo de se submeter à condução celestial! Esta é, sem dúvida, uma magnífica descrição do ministério pastoral!
O apóstolo, com as seguintes palavras, demonstra sua submissão para deixar-se ser conduzido pelo Senhor: “vou para Jerusalém”. Esta expressão é muito característica de Lucas, autor tanto do Evangelho que possui o seu nome quanto do livro de Atos dos Apóstolos. Para registrar a proximidade do martírio de Cristo ele se utilizava de expressão semelhante, como a que se observa em Lucas 19:28, que assim nos apresenta o caminho de Cristo para a morte: É notável a semelhança com o Senhor Jesus: “ia caminhando adiante, subindo para Jerusalém”. A proximidade da morte, a certeza quanto às tribulações e às cadeias e a incerteza quanto ao que lhe aconteceria em Jerusalém não poderiam arrancar dos lábios do apóstolo as corajosas palavras “vou para Jerusalém”.

A quinta qualidade do ministério pastoral surge na descrição contida no versículo 24: o profundo desejo de completar a carreira e ministério. Nem mesmo a própria vida pode ou deve constituir-se em obstáculo contra tal desejo. O apóstolo diz: “em nada considero a vida preciosa para mim mesmo”. Seu foco é completar a carreira e o ministério. Paulo qualifica o seu ministério da seguinte forma: Um ministério “que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”.
Portanto, as qualidades do ministério do apóstolo Paulo podem ser assim resumidas: [1] Ambiente, [2] forma, [3] conteúdo, [4] deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus e [5] um profundo desejo de completar a carreira e ministério.
É este Paulo, com tais qualificações, que se coloca diante dos presbíteros da igreja em Éfeso para oferecer-lhes os valiosos conselhos que podem ser vistos nos versículos de 25 a 35. O cristão que ama o Senhor e que considera que o ministério pastoral deve ser exercido com uma profunda e bíblica espiritualidade deve ater-se, com a maior diligência possível, às palavras contidas nos versículos 25 a 35.
A. M. Cunha

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A IMPORTÂNCIA DE UM LUGAR DE ORAÇÃO


O início da igreja em Filipos foi marcado pela oração. Assim tendo sido também com relação ao início de nossa vida espiritual: A oração esteve presente. Se a oração foi importante para início de nossa vida espiritual, qual não seria, portanto, sua importância para que a nossa vida com Cristo seja relevante e continuamente inspiradora? Existe uma expressão muito importante que podemos ver quando lemos a seguinte porção da Escritura Sagrada que extraímos do livro de Atos dos Apóstolos.

“No sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido. Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia. (...) Aconteceu que, indo nós para o lugar de oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. (...) Isto se repetia por muitos dias. Então, Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora, saiu.”
Atos 16:13-14, 16 e 18

Esta porção das Escrituras nos apresenta um importante esclarecimento acerca do que se pode chamar de lugar de oração”. Este tema foi abordado por Nosso Senhor quando Ele proferiu o conhecido sermão da montanha [Tenho preferido chamar este sermão de “o sermão do Reino”]. Deste sermão, extraímos a seguinte orientação:

“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.”
Mateus 6:6

Tal orientação nos oferece uma importante visão acerca do lugar de oração, descrevendo-o como muito mais do que um ambiente. Na verdade, esta expressão compreende muito mais uma conduta cristã do que um ambiente cristão. Neste sentido, o texto que lemos no livro de Atos dos Apóstolos nos apresenta duas importantes lições acerca da necessidade de experimentarmos um lugar de oração em nossa vida cristã diária. Vejamos estas lições:

1. O lugar de oração requer de nós uma atitude: Foquemos nossa atenção nas seguintes expressões extraídas do texto de Atos 16: “saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração” (v. 13) e “indo nós para o lugar de oração” (v. 16). Estes textos apresentam uma forte ênfase na conduta na conduta de “sair” e “ir”. Em outras palavras, podemos ver aqui a presença da atitude. Sem uma firme atitude para estabelecermos o hábito de orar, não será possível construir um lugar de oração. Às vezes lutaremos contra nossa agenda particular, nosso desenfreado desejo de desfrutar descanso, nosso cansaço, nossa apatia, nossa frieza espiritual. Esta luta nada mais é do que adotar uma firme postura de estabelecer um lugar de oração.

2. O lugar de oração é um lugar que tornará possível o desfrute das seguintes experiências:

[1] Resistência espiritual: “nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador” (v. 16). Este encontro tem uma forte conotação de oposição e resistência. Assim, o estabelecimento de um lugar de oração fará com que enfrentemos resistência espiritual;

[2] Cooperação divina: “o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (v. 14). A prática de um lugar de oração fará com que tenhamos a rica oportunidade de vivenciarmos experiências com Deus. A cooperação divina é tudo o que precisamos para o desfrute de uma vida espiritual profundamente equilibrada. É confortante saber que podemos contar com o auxílio do Senhor. Tal auxílio, que é constante e efetivo, é o que denomino de “cooperação divina”.
A. M. Cunha