segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

TOMAR A CRUZ PARA SEGUIR A CRISTO


Seguir Jesus é um extraordinário projeto de vida. Ao mencioná-lo, Jesus faz uso do vocábulo grego θέλω [thelo], traduzido como “quer”. Este vocábulo grego significa: “querer, ter em mente, pretender, estar resolvido ou determinado, propor-se, desejar, ter vontade de”. Por vezes, este vocábulo é usado como sinônimo de: “gostar, gostar de fazer algo, gostar muito de fazer, ter prazer em, ter satisfação”. Os dois são perfeitamente cabíveis aqui, inclusive, sendo usados conjuntamente, para descrever que se alguém se propõe seguir a Cristo, o faz porque tem prazer e satisfação em segui-Lo.

No entanto, o chamado de Jesus para o discipulado veio a nós com a seguinte estrutura: [a] Desejar seguir; [b] negar a si mesmo; [c] tomar a cruz; e [d] efetivamente seguir. Noutras palavras, a partir dos quatro elementos desta estrutura, podemos dizer o seguinte: Todo aquele que tem o desejo de seguir a Cristo, deve negar-se a si mesmo e tomar a sua cruz, caso deseje efetivamente segui-Lo. Destes quatro elementos, quero ater-me ao seguinte: Tomar a cruz. O texto literalmente diz: “tome a sua cruz”, do grego ἀράτω τὸν σταυρὸν αὐτοῦ [aratō ton stauron autou]. Esta frase, “tome a sua cruz”, possui uma natureza singular, única e intransferível. Desejo dedicar algumas palavras refletindo sobre o seu significado neste texto das Escrituras.

Qual o papel da frase “tome a sua cruz” neste versículo? Particularmente, penso que esta frase concede ao ato de “negar-se a si mesmo” as qualidades de fidelidade e perseverança. Deixe-me tentar ser um pouco mais específico. Noutras palavras, isto significa o seguinte: Quem deseja seguir a Jesus, somente poderá efetivamente fazê-lo, se e somente se, for fiel e perseverante na atitude de negar a si mesmo!

Quando estas palavras foram proferidas por Jesus, a sociedade judaica estava sob o domínio do Império Romano. Naqueles dias, a cruz era um modo de execução cruel e doloroso. Significava que aquele que a carregava tinha diante de si uma morte certa, cruel e inevitável. Portanto a cruz era uma representação da morte. Ao fazer uso desta expressão, penso que Jesus pretendia dizer algo mais ou menos assim: Caso você deseje seguir-me, você somente poderá efetivamente fazê-lo se, e somente se, negar-se a si mesmo. Mas, negar-se a si mesmo não poderá ser feito de qualquer maneira, você deverá ser fiel e perseverante quando estiver negando a si mesmo, e deverá fazê-lo até o último dia da sua vida.

Seguir a Cristo é, portanto, uma atitude para a vida toda – o mais extraordinário projeto para a vida humana! Um condenando à morte de cruz pelo Império Romano sujeitava-se à zombaria e ao escárnio enquanto carregava a sua cruz, que era o seu instrumento particular de execução. A força da lei romana não lhe permitia abandonar a cruz, Ele deveria carregá-la com “fidelidade” e “perseverança”. O discípulo de Cristo, porém, deve carregar a sua cruz com fidelidade e perseverança, não pela força da lei dos homens, para pelo encorajamento e capacitação que advêm da lei do amor de Cristo!

Permita-me construir uma reflexão adicional. O discípulo de Cristo deve carregar a sua cruz, profundamente influenciado e capacitado pelo poder que emana da Cruz de Cristo! A cruz que carregamos não é, nem de perto, um fragmento da Cruz de Cristo! Mas somente poderemos carregar a nossa cruz se formos capacitados pelo poder que emana da Cruz de Cristo! Portanto, penso que a Cruz de Cristo é o eixo central que alinha a nossa vida para que tenhamos toda a condição necessária e indispensável para seguirmos a Cristo, pois ela é o dínamo que libera o poder necessário para que possamos efetivamente segui-Lo. Este poder é o único que concederá ao homem a condição necessária e indispensável para efetivamente seguir a Cristo.
A. M. Cunha