segunda-feira, 7 de junho de 2021

Evangelho Segundo João - Capítulo 1

A visão, num certo sentido, pode ser entendida como resultado da interação de, pelo menos, três elementos:

[1] Um órgão visual que seja funcional, portanto, capaz de ver;

[2] Uma substância para ser vista; e

[3] A existência de luz em limites minimamente capazes de proporcionar uma visibilidade eficaz.

O capítulo 1 do Evangelho Segundo João, em suas iniciais palavras, faz uma breve narrativa acerca da pessoa de Jesus Cristo, como o Verbo Divino que se tornou humano. A respeito de Jesus o evangelista diz que a “vida estava nele e a vida era a luz dos homens” [João 1.4]. Portanto, Jesus foi comparado a uma luz – única, universal e vencedora –, pois o evangelista João diz que o Seu brilho resplandeceu com intensidade tal que “as trevas não prevaleceram contra ela” [João 1.5].

Por fim, um elemento humano é introduzido nessa narrativa: Refiro-me a João, o batista, a respeito de quem se diz que era “um homem enviado por Deus”, que ele “veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz” e que “Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz” [João 1.6-8].

Jesus Cristo é apresentado, nas letras iniciais deste Evangelho, como “a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem” [João 1.9].

Este Evangelho, como toda Escritura Bíblica, tem Sua origem em Deus e é destinado ao homem. A Bíblia Sagrada, por ter sido escrita por Deus para o homem, pode ser compreendida como uma magnífica carta do amor divino para a humanidade.

Como falamos inicialmente, a visão é o resultado da interação de três elementos singulares. Os três elementos que falamos no início desta reflexão estão presentes na introdução do Evangelho Segundo João:

[1] O órgão visual é o “olho divino”, plenamente capaz de ver;

[2] A humanidade, por sua vez, é a substância a ser vista; e, por fim,

[3] Jesus é a verdadeira luz.

Este é, portanto, o maravilhoso quadro da “visão celestial” que alcança toda a humanidade, pois esta luz, Jesus Cristo, “ilumina a todo homem” [João 1.9]. A introdução do Evangelho Segundo João é, por assim dizer, uma extraordinária narrativa acerca do modo como Deus vê a história humana, uma singular descrição da “visão celestial” que pode ser assim resumida: Deus vê, a humanidade é vista e Jesus é a verdadeira luz que transforma aquele que crê, pois, como já falamos, a “vida estava nele e a vida era a luz dos homens” [João 1.4]!

Um último detalhe dessa introdução não pode ser esquecido. Existem duas classes de pessoas descritas neste Evangelho:

[1] Aqueles que, uma vez tendo sido iluminados, tornam-se filhos de Deus mediante a fé; e

[2] Aqueles que, por não possuírem fé e, portanto, serem cegos espiritualmente, continuam em trevas.

Jesus Cristo é a luz que contém a vida que humanidade necessita. Tudo neste Evangelho gravita em torno dessa vida e dessa luz! A “visão celestial” contempla toda a humanidade com o propósito de conceder-lhe vida mediante a fé e a partir da iluminação de Jesus Cristo.

Um grande abraço a todos.

Deus os abençoe!

A. M. Cunha


Evangelho Segundo João - Capítulo 2

O capítulo 2 do Evangelho Segundo João apresenta a narrativa do primeiro milagre que Jesus realizou. Nesse Evangelho, os milagres de Jesus são chamados de sinais. É necessário que eu faça um importante destaque quanto ao propósito dos sinais realizados por Jesus. Todo milagre divino é composto por, pelo menos, três elementos:

[1] A situação, a circunstância ou o problema que é solucionado pelo milagre;

[2] Aquele que é o destinatário do milagre; e, por fim,

[3] Aquele que realiza o milagre.

Por mais que pensemos que nós, como destinatários, sejamos o foco do milagre, ou ainda, por mais que pensemos que a mera transformação da situação, circunstância ou problema que nos assolava seja o destino último das ações de Jesus em nosso favor, a Bíblia nos dá conta de que os milagres não possuem este propósito. O próprio evangelista é bem direto quando esclarece o propósito dos milagres realizados por Jesus. Ele diz o seguinte: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” [João 20:30].

Embora os milagres realizados por Jesus possuam, como afirmamos acima, pelo menos três elementos, apenas um deles pode ser definido como o propósito dos milagres, ou seja, os milagres apontam para Aquele que os realiza: Jesus Cristo! Os milagres destinam-se a fazer com que creiamos em Jesus como o Cristo e, consequente, tenhamos vida em Seu nome!

É muito significativo, contudo, que o primeiro sinal realizado pelo Senhor Jesus tenha ocorrido na Galileia. O profeta Isaías afirmou que a Galileia seria conhecida como “Galileia dos Gentios”, “povo que andava em trevas” e “região da sombra da morte” [Isaías 9.1-2]. A Galileia era, portanto, uma região de abundante pecado! Porém, as Escrituras lançam um brilho de esperança quanto a isso, pois, nas palavras do apóstolo Paulo, “onde abundou o pecado, superabundou a graça” [Romanos 5.20].

No capítulo 1º, Jesus foi apresentado como uma luz – única, universal e vencedora –, cujo brilho resplandeceu com uma fulgurante intensidade, de modo que “as trevas não prevaleceram contra ela” [João 1.5]. A respeito do povo da Galileia o profeta Isaías disse: “O povo que andava em trevas viu grande luz” [Isaías 9:2]. Jesus não poderia ter escolhido um lugar melhor para realizar o Seu primeiro milagre! A Galileia, sendo a “região da sombra da morte”, cujo “povo que andava em trevas”, era, não apenas um lugar físico, mas uma esplêndida representação deste “mundo tenebroso”. Sim, nós vivemos na “região da sombra da morte” e fomos contados como o “povo que andava em trevas”, mas Jesus é “a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem” [João 1:9]. Louvado seja Deus, pois Jesus “habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória” [João 1:14].

O apóstolo João nos diz que Jesus, “em Caná da Galiléia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” [João 2.11]. No capítulo 1º desse evangelho nós fomos apresentados ao primeiro princípio: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” [João 1:1] E quanto a este primeiro princípio, Jesus foi exaltado sobremaneira, pois a Seu respeito se diz: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” [João 1:3]. No capítulo 2, no entanto, nós somos apresentados a um novo princípio – o princípio dos sinais realizados pelo Senhor Jesus, por isso se diz: “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais” [João 2:11].

Vejamos um pouco sobre este primeiro “sinal” realizado por Cristo – Nele “a água foi transformada em vinho”. Aquela água, por ter adquirido uma nova natureza, foi, por conseguinte, transformada em vinho! A água possui uma natureza e o vinho, outra. Para que a natureza da água fosse transformada noutra natureza, foi necessária a ação de um poder superior, um poder capaz de penetrar nos seus minúsculos componentes, imprimir-lhes uma poderosa ação modificadora, e, desta forma, transformá-la noutra substância, o vinho!

Todo aquele que experimentou o novo nascimento, foi transformado da água para vinho! Este é o primeiro e o mais glorioso sinal que Cristo realiza na vida daquele que vivia na “região da sombra da morte”, o novo nascimento!

Quando Cristo realizou seu primeiro “sinal” na vida daquele que nasceu de novo, essa pessoa foi submetida a um poder superior que exerceu sobre si uma maravilhosa ação modificadora, que por fim, o transformou numa nova criatura! Isso se deu porque Cristo concedeu-lhe uma nova natureza. Nas palavras do apóstolo Paulo esse milagre é assim descrito: “se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” [1 Coríntios 5.17]. De acordo com Romanos 6:22, fomos libertados do pecado e transformados em servos de Deus. Essa gloriosa transformação encheu-nos de vida, a vida que, conforme João 1:4, é a luz dos homens”!

Um grande abraço a todos.

Deus os abençoe!

A. M. Cunha


Evangelho Segundo João Capítulo 3

Todo nascimento é uma oportunidade para a expansão de uma família. De fato, a casa nunca mais será a mesma quando nasce um novo membro. Quando uma nova pessoa surge em nossas famílias, todas as coisas sofrem uma radical transformação: os gastos, a agenda, os compromissos, o tempo, as tarefas, etc. Mas, sobretudo, os sentimentos, a visão de mundo, a experiência da renúncia e a capacidade de servir sem esperar retribuição, todas estas coisas serão transformadas e intensificadas! Sem dúvida o nascimento provoca mudanças!

O capítulo 3 do Evangelho Segundo João registra o diálogo de Jesus com Nicodemos, um dos principais líderes religiosos entre os judeus. O cerne desse diálogo foi o que Jesus chamou de “novo nascimento”. Jesus afirmou “que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” [João 3.3]. No entanto, a religiosidade de Nicodemos era um forte impedimento em sua capacidade de perceber as realidades espirituais, por isso ele era incapaz de discernir com clareza as palavras de Jesus.

Jesus, no entanto, não deixa aquele que O busca no escuro. Por isso Ele foi mais enfático em Suas palavras, dizendo: “É necessário nascer de novo” [João 3.7]! E no decorrer daquele diálogo, as coisas vão ficando bem mais claras para Nicodemos. Como falamos anteriormente, o nascimento natural provoca mudanças a nossa volta. O novo nascimento também provoca mudanças. Porém, as mudanças provocadas pelo nascimento espiritual são imensamente superiores e radicalmente muito mais transformadoras do que aquelas provocadas pelo nascimento natural. Sem dúvida, as mudanças provocadas pelo novo nascimento decorrem de uma poderosa ação do Espírito Santo em nossa vida! Tudo mudou quando nascemos de novo!

É por isso que devemos estar atentos para a seguinte realidade: Se mudanças profundas e transformadoras não são constatadas em nossa vida, isso significa que, muito provavelmente, o novo nascimento não aconteceu em nossa história! As mudanças são, portanto, uma formidável consequência e uma magistral evidência do novo nascimento!

Porém, o novo nascimento não provoca apenas mudanças em nossa vida, mas também promove a expansão da família de Deus, pois, de acordo com as Escrituras, todo aquele que nasceu de novo passa a fazer parte da família de Deus [João 1:12 e Efésios 2:19 comprovam esta realidade]! Quem experimenta o novo nascimento acaba por descobrir que não é o único a ter esta gloriosa experiência, mas descobrirá que ao seu lado existe uma multidão de outras pessoas que igualmente experimentaram o novo nascimento, e agora, juntamente com você, fazem parte da família de Deus!

Não nos esqueçamos, porém, que, à luz do capítulo 3 do Evangelho Segundo João, o novo nascimento promove duas singulares transformações na vida de uma pessoa:

[1] O novo nascimento concede àquele que o experimenta a capacidade para “ver o reino de Deus” [João 3.3];

[2] O novo nascimento concede àquele que o experimenta a capacidade para “entrar no reino de Deus” [João 3.5].

Observe a progressão: Primeiro “ver”, depois “entrar”. O Reino é primeiramente visto, contemplado, admirando, vislumbrado. Depois, irresistivelmente, aquele que o vê, desfruta da inigualável virtude de entrar no Reino de Deus. Assim, por meio do novo nascimento, o Reino de Deus passa a ser a nossa visão e o nosso ambiente! Ele é a nossa visão, porque ele é tudo o que vemos! Ele é o nosso ambiente, porque ele é o recinto onde nos sentimos agasalhados e que nos faz desfrutar a benção de pertencer à mais profunda realidade espiritual de nossa história: A família de Deus! Como é glorioso o novo nascimento!

A. M. Cunha


EVANGELHO DE JOÃO - CAPÍTULO 4

Ele não era quem eu pensava que fosse! Esta frase, por vezes, é pronunciada logo após uma angustiante e profunda decepção com uma determinada pessoa! Mas, e se essa frase não fosse fruto de uma decepção, mas viesse a ser pronunciada logo após uma fascinante e reveladora descoberta? De fato, é plenamente possível que venhamos a descobrir que alguém seja muito diferente daquela desagradável percepção que inicialmente nutríamos a seu respeito. Nesse caso, estaríamos diante, não de uma cruel e lamentável decepção, mas de uma fascinante descoberta, uma agradável e maravilhosa surpresa!

O capítulo 4 do Evangelho Segundo João é extremamente revelador quando a este ponto. Este capítulo narra a história do encontro de Jesus com a mulher samaritana. Mas não estamos diante de um encontro qualquer, pois a equivocada percepção daquela mulher com respeito a Jesus foi lentamente sendo desconstruída à medida que o encontro ia prosseguindo. Vejamos como se deu esta progressão:

[1] Em primeiro lugar, aquela mulher entendia que havia uma considerável barreira racial que jamais permitiria que ela conversasse com Jesus. Isto pode ser visto nas seguintes palavras que ela pronunciou: “Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana [...]? [João 4.9];

[2] Em segundo lugar, aquela mulher julgava que Jesus não possuía nenhum recurso, de modo que Ele, aos olhos daquela mulher, jamais poderia prestar-lhe qualquer auxílio ou contribuição para sua existência. Ela afirmou o seguinte: “O senhor não tem com que tirar a água, e o poço é fundo” [João 4.11];

[3] Em terceiro lugar, aquela mulher considerava Jacó em mais alta conta do que Jesus, de modo que ela o considerava muito maior e muito mais digno de respeito do que Jesus. Nesse sentido ela afirmou o que se segue: “És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço [...]? [João 4.12];

[4] Em quarto lugar, aquela mulher, agora sob o impacto daquele encontro e das transformadoras palavras proferidas por Jesus, começou a descobrir que Ele não era quem ela inicialmente pensava. Seu conceito a respeito Dele mudou! Sua percepção a respeito Daquele que com ela dialogava foi radicalmente influenciado pelo transformador conteúdo de Suas palavras. Antes mesmo que aquele diálogo terminasse o evangelista João registra as seguintes palavras: “Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta” [João 4.19];

[5] Em quinto lugar, aquela mulher, cada vez mais impactada por aquele poderoso encontro, começa a cogitar a possibilidade de Jesus poder ser o Cristo, o prometido e aguardado Messias. Quanto a este ponto, o evangelista menciona o seguinte: “Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?” [João 4.28-29];

[6] Em sexto lugar, aquela mulher não apenas percebeu que Jesus era diferente de tudo daquilo que ela inicialmente pensava a seu respeito, como também, em decorrência do radical e transformador impacto de seu encontro com Cristo, ela tornou-se uma vibrante testemunha de Jesus. A Bíblia diz o seguinte: “Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher” [João 4.39].

Um verdadeiro encontro com Jesus desconstrói todo pensamento equivocado que se tenha tido sobre Ele! Todo pensamento que se tenha acerca de Jesus, sem que se tenha tido um encontro com ele, será equivocado! O encontro com Jesus sempre será transformador! Aquele que com Ele se encontra, desfrutará de uma das mais revolucionárias experiências da existência humana: A experiência de saber que Cristo é muito mais do que tudo aquilo que inicialmente pensávamos a Seu respeito!

A. M. Cunha


Evangelho de João - Capítulo 5

Perguntas cujo propósito é descobrir qual é o real desejo de alguém para um determinado momento são normalmente respondidas com uma clara, expressa e direta manifestação de vontade. Foi isso, por exemplo, o que aconteceu com o cego Bartimeu, quando Jesus lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?”. A resposta de Bartimeu manifestou claramente sua vontade: “Mestre, que eu torne a ver” [Marcos 10.51].

No entanto, o Capítulo 5 do Evangelho Segundo João apresenta outra forma de responder a esse tipo de pergunta, onde o que se deseja é descobrir a vontade específica de alguém para um determinado momento.

Quando estava em Jerusalém para uma das festas dos judeus e percorria, nos arredores da Porta das Ovelhas, os pavilhões do tanque de Betesda, Jesus encontrou-se com um paralítico que estava enfermo há 38 anos. Durante esse encontro, Jesus fez àquele paralítico a seguinte pergunta, cujo propósito era descobrir a sua real vontade para aquele momento: “Queres ser curado?” [João 5.6].

A resposta naturalmente esperada diante de tais perguntas deveria ser uma clara e expressa manifestação de vontade. O paralítico poderia ter dito: “Sim, Senhor, quero ser curado!”. Mas essa não foi sua resposta direta. O paralítico fez uso das seguintes palavras para responder à pergunta feita por Jesus: “Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.” [João 5.7].

Observe que o paralítico, nessa resposta, não manifestou clara e diretamente sua vontade, muito embora, indiretamente sua resposta tenha expressado o desejo de ser curado.

Vejamos o que ele revelou em sua resposta:

[1] Em primeiro lugar, ele revelou que estava sozinho, pois, disse ele, “não tenho ninguém que me ponha no tanque”. Até este ponto de sua resposta, não havia a expressão de uma vontade clara e específica de ser curado; o que ele revelou, até este momento, porém, foi o seu estado de solidão;

[2] Em segundo lugar, a partir da resposta dada por aquele paralítico, concluímos que ele, não obstante estivesse sozinho, sua postura não havia sido a de um homem envolto num deplorável estado de autocomiseração, de lamentação ou queixume. Ao contrário, em suas palavras aquele homem demonstrou que, em vez de ficar lamentando o seu estado de paralisia, ele escolheu agir, ainda que nos limites de suas possibilidades. Eis o que ele disse: “enquanto eu vou”. Ele era alguém que, embora fosse paralítico, e, portanto, vivesse num estado de paralisia física, sua alma não se achava algemada, pois ele estava internamente em movimento.

Como afirmamos acima, aquele homem, em sua resposta, não manifestou expressamente a vontade de ser curado. No entanto, podemos ver que ele revelou de forma veemente, porém implícita, que ele realmente possuía uma real vontade de ser libertado do seu estado de paralisia física. Quando afirmou “enquanto eu vou”, ele estava, em outras palavras, demonstrando que, de fato, sua vontade era a de ser curado.

Assim, embora ele não tenha respondido à pergunta de Jesus com uma clara e expressa manifestação da vontade, isso não significava, porém, que ele não possuía, de fato, a vontade de ser curado! Ao contrário, em sua resposta, ele demonstrou sua vontade de ser curado com a ação de ir ao encontro das águas. Dito de outra forma, aquele paralítico não manifestou sua vontade de ser curado com palavras, mas com atitudes! Aquela foi, sem dúvida, uma resposta singular!

Desta narrativa bíblica colhemos o precioso ensinamento de que as nossas atitudes, não raro, demonstram nossa vontade, ainda que não usemos palavras para expressá-la! Se olharmos atentamente para os espaços mais ocultos de nossa alma, pode até ser que não consigamos contemplar uma clara expressão da nossa vontade. Mas isso não significa que ela não esteja lá. De fato, ela está lá, ainda que profundamente escondida. Porém, se atentamente olharmos para o complexo ambiente das nossas atitudes, contemplaremos a nossa real vontade!

Que nossas atitudes sejam o reflexo de corações impulsionados, não para os tanques da existência humana, mas para o Supremo arquiteto do Universo, Aquele, que com o sopro da Sua boca, criou todas as coisas e todas as fontes que temos à nossa disposição. O Nosso Deus é, portanto, poderoso para soprar em nossa existência estática e fazer com que entremos em movimento nas águas do rio do Seu infinito amor!

A. M. Cunha


Evangelho de João - Capítulo 6

Sem dúvida, a capacidade de identificar potencialidades, principalmente em situações de crise com o objetivo de superá-la, é uma notável e prodigiosa arte que a humanidade pode desfrutar! Esse particular aspecto da dinâmica da vida possui importância singular no processo de liderança eficaz e transformadora.

O capítulo 6 do Evangelho Segundo João narra um desses momentos, onde a descoberta de potencialidades tornou-se numa ferramenta muito útil para a solução de uma crise que, sorrateiramente, se aproximava. Refiro-me àquela narrativa bíblica onde a necessidade de alimentar uma numerosa multidão, que seguia Jesus, tornou-se algo urgente e inadiável [João 6.2 e 5]! Esta necessidade havia sido destacada por Jesus com as seguintes palavras: “Onde compraremos pães para lhes dar a comer?” [João 6:5].

O evangelista descreve a real motivação daquela multidão fazendo uso das seguintes palavras: “Seguia-o numerosa multidão, porque tinham visto os sinais que ele fazia na cura dos enfermos” [João 6:2]. Como se pode observar, não se tratava de uma multidão sedenta pelos ensinamentos de Jesus, mas, de uma multidão cujo interesse era, unicamente, receber os gloriosos milagres realizados por Jesus. O Cristo que estava diante daquela multidão já havia sido descrito neste Evangelho como sendo “cheio de graça e de verdade” [João 1:14]. Sendo assim, Jesus não é um portador apenas de graça para os Seus ouvintes, mas Ele é, também, o legítimo proprietário da verdade. O pleno desfrute desses atributos, tanto da graça quanto da verdade, requer, não apenas o recebimento da “graça”, mas a obediência à “verdade”!

Em resposta à pergunta feita por Jesus, um dos Seus discípulos chamado André informou o seguinte: “Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos” [João 6.9]. Aquele discípulo foi capaz de identificar algum nível de potencialidade na vida daquele rapaz. No entanto, sua fé ainda não estava aperfeiçoada o suficiente para crer que aqueles pães e aqueles peixinhos seriam o bastante para aquela multidão. Em sua incredulidade André disse: “mas isto que é para tanta gente?” [João 6.9].

É extraordinário saber que é possível identificar potencialidades ainda que a fé não tenha sido suficientemente aperfeiçoada! Nunca é demais destacar que uma potencialidade descoberta nada será, a menos que seja entregue nas mãos de Jesus! Essa é a descrição contida do texto de João 6.11, que nos diz: “Então, Jesus tomou os pães e [...] também igualmente os peixes”. Que as nossas potencialidades, por mais tacanhas que venham a ser, sejam entregues nas mãos daquele que é “cheio de graça e de verdade”!

O resultado obtido quando uma potencialidade é colocada nas mãos de Jesus é algo extraordinariamente magnífico! O texto bíblico diz o seguinte: “E, quando já estavam fartos” [João 6.12]! A fartura é o destino das potencialidades que são entregues nas mãos de Jesus! O Cristo que viu a fome que se aproximava, foi suficientemente poderoso para suplantá-la, abrindo espaço para a fartura! Que se levantem novos “Andrés” em nossa geração e que as potencialidades descobertas sejam lançadas aos pés daquele que pode transformar a fome em fartura!

A. M. Cunha


Evangelho de João - Capítulo 7

Três festas possuíam um singular valor para o povo de Israel: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos. O capítulo 7 do Evangelho Segundo João apresenta uma dessas festas, a Festa dos Tabernáculos! O evangelista João diz o seguinte: “Ora, a festa dos judeus, chamada de Festa dos Tabernáculos, estava próxima.” [João 7:2]. Mais adiante, o evangelista diz: “Depois que seus irmãos tinham ido à festa, Jesus também foi, não publicamente, mas em segredo.” [João 7:10]. Agora aquela festa estava completa, pois Jesus estava presente!

A ordem acerca da celebração da Festa dos Tabernáculos está contida em Deuteronômio 16:13-15. Essa festa durava sete dias. E entre os sete dias de celebração dessa festa havia um ápice, o apogeu da sua celebração, o grande dia, que era o último dia da festa! O evangelista refere-se a este dia fazendo uso das seguintes palavras: “No último dia, o grande dia da festa [...] [João 7:37]. O grande e último dia, era, a um só tempo, majestoso, por ser grande, e saudoso, por ser o último! Sendo o último, portanto, aquele dia era, na verdade, a declaração acerca do fim daquela majestosa festa, pois a Festa dos Tabernáculos estava chegando ao fim! Isso implicava dizer que somente no próximo ano os judeus a celebrariam novamente!

 

Jesus, no entanto, fez uma sublime afirmação, cujo sentido apontava para uma festa que jamais se acabaria: A Festa do Espírito Santo! Jesus declarou: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado.” [João 7:37-39]. A eternidade dessa fonte está claramente descrita neste Evangelho nas seguintes palavras: [...] aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.” [João 4:14]. Que maravilhosa festa, inesgotável, interminável e inextinguível festa! De fato, uma festa infinita!

No último dia dessa festa singular, Jesus faz um inesquecível convite: [...] Se alguém tem sede, venha a mim e beba.” [João 7:37]. Sem dúvida, trata-se de um convite feito para aqueles que têm sede! O sedento que vem a Cristo saciará a sua sede, e não apenas isso, mas do seu interior fluirão rios de água viva!

Somente em Cristo nossa festa não terá fim! Não precisaremos esperar o próximo ano para celebrá-la novamente, pois todo dia é dia de Festa! Esta é uma autêntica festa do amor. O amor de Deus pelo homem e do homem para com Deus encontram-se nessa majestosa festa! Jesus disse algo maravilhoso acerca do amor do homem para com Deus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.” [João 14:21]. O Cristo da Festa dos Tabernáculos faz morada em todo aquele que O ama. É por isso que existe “uma fonte a jorrar para a vida eterna”. Eis a razão porque do seu interior fluirão rios de água viva.”. A eternidade é o fim último de todo aquele que ama a Cristo e Cristo é a fonte dos rios que emanam do seu interior!

A. M. Cunha


EVANGELHO DE JOÃO CAPÍTULO 8

Aquele que possui um olhar que é capaz de ver o que ninguém consegue ver: Esta é uma extraordinária forma de expressar a capacidade de percepção de Jesus Cristo! Por exemplo, quem seria capaz de vislumbrar que um pecador contumaz poderia, enfim, ser alcançado com o perdão divino? Jesus Cristo, sem dúvida, possui tão singular e aguçada percepção!

Aos olhos humanos, aquela mulher descrita nos versículos de 1 a 11 do capítulo 8 do Evangelho Segundo João, e que fora trazida aos pés de Jesus para julgamento, jamais seria merecedora de perdão. A Escritura, no entanto, nos diz: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” [Provérbios 28.13]. Não se sabe o que aconteceu com aquela mulher no trajeto entre o seu flagrante e sua apresentação a Jesus. Mas o singular e amoroso olhar de Jesus contemplou o que ninguém conseguiu ver! Teria aquela mulher se arrependido durante aquele trajeto? Sem dúvida, não temos um registro expresso acerca disso neste texto do Evangelho Segundo João, mas, o certo é que no desfecho dessa narrativa, Jesus perguntou: “Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?” [João 8.10]. O evangelista prossegue apresentando-nos a seguinte resposta proferida por aquela anônima mulher: “Ninguém, Senhor!” [João 8.11]. Jesus, então, escreveu um magnífico epílogo para aquela narrativa ao fazer a seguinte afirmação: “Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais” [João 8.11].

Esta afirmação de Cristo foi uma aguda e contundente declaração de que o perdão para aquela mulher, não era apenas uma possibilidade, mas uma gloriosa, profunda e transformadora realidade! O perdão concedido, porém, não significava que Jesus havia aprovado o ato pecaminoso cometido por aquela mulher! Mas, sem dúvida, o perdão concedido apontava para o fato de que aquela mulher estava diante de uma extraordinária oportunidade para construir uma nova biografia em sua história pessoal!

No desfecho daquela narrativa, Jesus proferiu uma advertência final, ao dizer: “vai e não peques mais” [João 8.11]. O perdão concedido não é um salvo-conduto para que se continue na prática do pecado, mas é, por um lado, o atestado de que o arrependimento, que é a força atrativa do perdão, foi real, efetivo e verdadeiro, e, por outro lado, é a plataforma a partir da qual aquele que foi perdoado é amorosamente convidado a não mais pecar!

Mão isso não é tudo o que vislumbramos nesta narrativa. É bom que se diga também, que nem de longe conseguiremos explorar toda a riqueza que este texto bíblico nos oferece. Mas há algo mais que precisamos abordar aqui. O texto diz: “Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo” [João 8:6]. Existem, pelo menos, três ocasiões em que as Escrituras registram Deus escrevendo algo:

[1] De acordo com Êxodo 31:18, Deus escreveu as tábuas dos Dez Mandamentos. Este texto, portanto, é o registro de que Deus escreveu para conceder a Lei;

[2] O livro do profeta Daniel descreve a queda do rei Belsazar, que ocorreu quando uma majestosa mão começou a escrever na parede onde estava ocorrendo um grande baquete oferecido pelo Rei. Aquela escrita era o juízo de Deus sobre aquele reino. Este texto, portanto, de que Deus escreveu para aplicar a justiça da Lei;

[3] A terceira ocasião em que Deus novamente escreve está registrada no capítulo 8 do Evangelho Segundo João, ocasião em que levaram até Jesus uma mulher surpreendida em adultério. Enquanto os acusadores daquela mulher desejam condená-la à morte, Jesus, com o Seu dedo, pacientemente escrevia algo na terra. Não sabemos ao certo o que Ele escreveu, mas sabemos que o resultado final foi a demonstração do Seu amor para com aquela mulher. De acordo com Romanos 13:10, o apóstolo Paulo afirmou o seguinte: “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”. Assim, num certo sentido, podemos afirmar que a terceira vez em que Deus escreveu algo, Ele o fez para cumprir a Lei, pois o cumprimento da Lei é o amor!

Portanto vemos três ocasiões em que Deus escreveu: A primeira, Ele escreveu para conceder a Lei; na segunda, Ele escreveu para aplicar a justiça da Lei; e na terceira, Ele escreveu para cumprir a Lei, ou seja, demonstrar o Seu infinito, inefável e majestoso amor!

A. M. Cunha


Evangelho de João - Capítulo 9

Como é angustiante, aflitivo e tormentoso sofrer a dor de cruéis, bárbaras e hediondas fatalidades, quer sejam aquelas provocadas pela maldade e pela incompreensão das pessoas, quer sejam aquelas que, independentemente da ação humana, ocorram conosco ao longo de nossa trajetória! O capítulo 9 do Evangelho Segundo João é dedicado a narrar a história de um homem, cuja vida foi alcançada por estes dois tipos de fatalidades.

[1] A primeira dessas fatalidades aconteceu à revelia da ação humana, ou seja, nenhum homem a provocou. Aquele homem, sem nome, desconhecido, e quem sabe até ignorado, nasceu cego, totalmente privado da capacidade para contemplar a face dos seus pais, a beleza do sol e as multiformes tonalidades do verde das árvores. Incapaz de ver o que estava à sua volta, só lhe era permitido perceber o cheiro, o som, a textura ou o gosto. A seu respeito o texto bíblico simplesmente diz: [...] um homem cego de nascença” [João 9.1]. Esta era a sua breve biografia;

[2] A segunda dessas fatalidades foi provocada pela maldade e pela incompreensão inerente às ações humanas, com a agravante de ter acontecido exatamente no ambiente onde não se esperava que acontecesse – o ambiente da prática da religiosidade [João 9.13-34]. O lugar onde as pessoas deveriam ser acolhidas, amparadas, compreendidas e abraçadas, tornou-se o lugar das críticas, da desconfiança, das injúrias, dos insultos e da rejeição. Os fariseus foram incapazes de celebrar com ele a vitória sobre a cegueira. Não se alegraram porque aquele homem agora podia ver o que estava a sua volta! Não comemoraram o fato de que aquele homem, além de perceber o cheiro, o som, a textura ou o gosto das coisas ao seu redor, agora podia ver a multiforme beleza que a natureza proporciona aos seres humanos. O farisaísmo, por ser invejoso, legalista e tirano, transgride a lei da alegria compartilhada, pois nele não há espaço para alegrar-se com os que se alegram [Romanos 12.15].

A breve narrativa daquele homem que, após seu encontro com Jesus, venceu a cegueira que o assolava desde o nascimento, é uma forte voz que nos transmite a mensagem de que as fatalidades, onde quer que elas ocorram e independentemente de quem as pratique contra nós, jamais terão a palavra final em nossas vidas, desde que tenhamos um transformador encontro com Jesus Cristo! Não, definitivamente as fatalidades não terão este sabor!

De acordo com o texto bíblico, aquele homem teve dois encontros com Jesus. No que se refere ao primeiro encontro, o texto bíblico afirma: “Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença” [João 9.1]! Ele foi visto, não apenas pelos olhos físicos de Jesus, mas foi também visualmente capturado pela compaixão do Mestre Divino que o percebeu com os olhos da Sua benignidade! O resultado desse encontro foi o seguinte: E “Ele [o homem cego] [...] lavou-se e voltou vendo.” [João 9.7]!

Por outro lado, quanto ao segundo encontro de Jesus com aquele homem, logo após a segunda fatalidade, quando os fariseus o haviam expulsado do ambiente da religiosidade, as Escrituras afirmam: “Ouvindo Jesus que o tinham expulsado, encontrando-o, lhe perguntou: Crês tu no Filho do Homem? Ele respondeu e disse: Quem é, Senhor, para que eu nele creia? E Jesus lhe disse: Já o tens visto, e é o que fala contigo. Então, afirmou ele: Creio, Senhor; e o adorou.” [João 9.35-38]. Após o primeiro encontro, aquele homem passou a ver fisicamente. Após o segundo, o seu sentido espiritual foi ativado, e ele viu, creu e adorou o Senhor do Universo!

Aquele homem, após ter sido completamente curado por Jesus, prostrou-se diante de Dele e O adorou! Como é maravilhoso encontrar-se com Jesus, ainda que esse encontro tenha ocorrido após a dor das fatalidades inerentes à vida! A maravilha desta narrativa bíblica está no fato de que aquele homem, duplamente alvo de fatalidades, foi duplamente encontrado por Jesus! O primeiro encontro concedeu-lhe a dádiva da visão natural. O segundo encontro, por outro lado, concedeu-lhe a benção da visão espiritual, a saber, a dádiva de crer no Senhor e O adorar!

A. M. Cunha


Evangelho de João - Capítulo 10

Certa ocasião Jesus fez a seguinte pergunta aos Seus discípulos: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” [Mateus 16.15]. Com esta pergunta, os discípulos de Jesus foram provocados a revelarem qual era o seu testemunho a respeito dele. A resposta do apóstolo Pedro foi a seguinte: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” [Mateus 16.16].

Todo testemunho envolve, pelo menos, três importantes perspectivas: [a] Quem promove o testemunho; [b] o conteúdo do testemunho; e [c] a consequência do testemunho. Na breve narrativa bíblica que apresentamos aqui, podemos identificar duas destas três perspectivas: Quem promove o testemunho, no caso, o apóstolo Pedro e o conteúdo do seu testemunho, ou seja, quem Jesus é.

É importante que destaquemos o fato de que o conteúdo do testemunho respeito de Jesus, num certo sentido, envolve “quem Ele é” e “o que Ele faz”.

O Evangelho de João, no que se refere ao testemunho de João Batista a respeito de Jesus, é bem didático e, numa certa medida, bem completo, pois podemos identificar as três perspectivas que abordamos até aqui. É possível identificar [a] Quem promove o testemunho, no caso João Batista; [b] o conteúdo do testemunho; e, por fim, [c] a consequência do testemunho.

E é exatamente no final do capítulo 10 do Evangelho Segundo João que podemos ver a gloriosa consequência do testemunho de João Batista a respeito de Jesus Cristo!

O Evangelho Segundo João, descreve pormenorizadamente o cuidadoso testemunho de João Batista a respeito de Jesus. No que se refere ao conteúdo desse testemunho, mencionaremos alguns textos do Evangelho Segundo João, a partir dos quais conseguimos identificar certos aspectos do conteúdo do testemunho de João Batista que, por sua vez, enfatiza “quem Jesus é” e “o que Ele faz”.

[1] O primeiro aspecto encontra-se no seguinte trecho do Evangelho: “João dá testemunho a respeito dele e exclama: — Este é aquele de quem eu dizia: ‘Ele vem depois de mim, mas é mais importante do que eu, pois já existia antes de mim.’” [João 1.15]. Embora João Batista tenha iniciado o seu ministério antes de Jesus iniciar o Seu, o mestre divino já existia antes de João Batista, sendo, portanto, mais importante do que João. O testemunho de João Batista, de acordo com este texto, enfatiza “Quem Jesus é”, ou seja, Ele é aquele que sempre será mais importante que o Seu mensageiro!

[2] O segundo aspecto encontra-se no texto de João 1.26-27, que nos diz o seguinte: “João respondeu: — Eu batizo com água, mas no meio de vocês está alguém que vocês não conhecem. Ele vem depois de mim, mas não sou digno de desamarrar as correias das suas sandálias.” Desatar as sandálias de alguém era, nos dias do Novo Testamento, uma das mais vis atividades humanas. João, ao contemplar os atributos inerentes à pessoa de Jesus, achava-se indigno até mesmo de lhe desatar as sandálias dos pés. O testemunho de João Batista, de acordo com este texto bíblico, enfatiza “Quem Jesus é”, ou seja, Ele é aquele que é absolutamente digno de receber glória, honra e poder!

[3] O terceiro aspecto está contido na seguinte porção do testemunho de João Batista: “No dia seguinte, vendo que Jesus vinha em sua direção, João disse: — Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” [João 1.29]. Esta porção bíblica enfatiza tanto “Quem Jesus é”, quanto “O que Jesus faz”. De acordo com este texto, Jesus é o Cordeiro a quem se referiu Abraão no texto de Gênesis 22.8. Ele é também o Cordeiro anunciado por Isaías, o profeta messiânico, de acordo com Isaías 53.7. Esse texto também enfatiza “O que Jesus faz”, ou seja, Jesus é aquele que tira o pecado do mundo. Portanto, à luz do texto de João 1.29 há uma ênfase tanto no que Jesus é, quanto no que Ele faz, pois Jesus é o Cordeiro de Deus que possui o absoluto poder para retirar o pecado do mundo!

[4] O quarto aspecto está presente no seguinte texto do Evangelho Segundo João: “E João testemunhou, dizendo: — Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele. Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: ‘Aquele sobre quem você vir descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo.’ Pois eu mesmo vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus.” [João 1.32-34]. Esse texto, à semelhança do anterior, enfatiza tanto “Quem Jesus é”, quanto “O que Jesus faz”. Desta forma, o texto de João 1.32-34 enfatiza que Jesus é o Filho de Deus, o detentor do magnífico poder de batizar com o Espírito Santo!

[5] O quinto e último elemento, desta série de aspectos acerca do conteúdo do testemunho de João Batista, está contido na seguinte expressão: “Eu não sou o Cristo, mas fui enviado como o seu precursor [...] Convém que ele cresça e que eu diminua.” [João 3.28 e 30]. Quando João Batista afirma que Jesus deve crescer à medida que ele deve diminuir, ele está enfatizando “Quem Jesus é”. Com a chegada de Jesus, ele estava convicto de que já havia cumprido sua missão como precursor do Messias. João, o mensageiro, não deveria mais continuar sendo seguido, pois chegou o Rei, o Messias divino, aquele para o qual o testemunho de João apontava: É a Ele que todos devem seguir! Portanto, o texto de João 3.28 e 30 enfatiza “Quem Jesus é”, ou seja, Ele é aquele que deve ser seguido!

Como já havíamos anunciado, o verdadeiro testemunho possui três importantes perspectivas: [a] Quem promove o testemunho; [b] o conteúdo do testemunho; e [c] a consequência do testemunho. Até aqui, no que se refere ao testemunho de João Batista, abordamos as duas primeiras perspectivas. Há ainda uma última perspectiva que deve ser abordada, e ela está contida nos dois últimos versículos do capítulo 10 do Evangelho Segundo João, que nos dizem o seguinte: “E muitos iam até ele e diziam: — João não fez nenhum sinal, mas tudo o que ele disse a respeito deste homem era verdade. E naquele lugar muitos creram nele.” [João 10.41-42].

O capítulo 10 do Evangelho Segundo João reconhece a força do testemunho de João Batista ao afirmar que tudo quanto João Batista disse a respeito de Jesus era verdade [João 10.41]! Que testemunho maravilhoso, provado e atestado pelo tempo como verdadeiro! Este testemunho não somente era verdadeiro, mas era suficientemente poderoso para provocar o despertar da fé: Esta é a gloriosa consequência do testemunho de João Batista! Eis a razão porque a Escritura afirma que muitos confirmaram que tudo o que João Batista disse sobre Jesus era verdade, e como consequência creram em Jesus [João 10.42]. Esta é a maravilhosa consequência do verdadeiro testemunho: proporcionar uma eficiente maneira para que as pessoas creiam em Jesus!

A. M. Cunha


EVANGELHO DE JOÃO - CAPÍTULO 11

Algumas pessoas experimentam momentos nos quais se deparam com o que se pode chamar de “quase morte”. Escapar com vida num cenário como esse pode ser descrito como uma situação em decorrência do qual a morte só não se tornou real por um minúsculo detalhe dos acontecimentos ou, como se diz, “escapou da morte por um triz”.

O capítulo 11 do Evangelho Segundo João apresenta um magnífico fragmento da história de Lázaro; porém, com uma significativa diferença em relação àquilo que acabamos de abordar, pois Lázaro não estava apenas diante de uma situação de “quase morte” – Ele de fato morreu! O evangelista resume esse episódio com as seguintes palavras: “Então, Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu” [João 11:14].

Imagino que você saiba que o capítulo final da história de qualquer pessoa que se relaciona com Jesus sempre será surpreendente! Esse princípio também se aplicou na história de Lázaro, pois a seu respeito, o texto bíblico afirmou o seguinte: “Saiu aquele que estivera morto” [João 11:44]. Se em relação àquele que escapa ileso de uma situação de “quase morte”, é comum dizer que essa pessoa “nasceu de novo”, com muito mais razão se poderia dizer que Lázaro também “nasceu de novo”, pois ele, literalmente, saiu da morte para a vida!

Quando aborda o tema da salvação pela graça, o apóstolo Paulo revela sua relevante e acurada percepção teológica ao afirmar o seguinte: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo” [Efésios 2:4-5]. Sem dúvida, nesse texto o apóstolo Paulo está abordando o fenômeno espiritual do “novo nascimento”. E é possível perceber que ele fez uso de dois singulares vocábulos ao abordar este fenômeno: a “morte” e a “vida”.

Esses dois vocábulos também permeiam a história da ressurreição de Lázaro, pois ele estava morto e, portanto, literalmente saiu da “morte” para a “vida”. E é exatamente isso que analogamente ocorre com o “novo nascimento”: os pecadores, ou seja, aqueles que estavam mortos em seus delitos e pecados, saem da morte para a vida!

O “novo nascimento” tem sido biblicamente compreendido como a ação divina que faz com que aquele que crê em Jesus Cristo saia da morte para a vida! É por isso que, com essa perspectiva em mente, torna-se plenamente possível ter uma melhor compreensão quanto à seguinte afirmação do apóstolo Paulo: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” [Efésios 2.1].

Num certo sentido, portanto, pode-se afirmar que Lázaro, um dos membros de uma família muito amada por Jesus, quando foi ressuscitado tornou-se um recém-nascido! Seguindo essa linha de pensamento, podemos então analisar a ressurreição de Lázaro, não apenas como um fato histórico, como de fato o é, mas também como uma notável figura do novo nascimento.

Feitas essas considerações, olhemos um pouco mais detidamente para as seguintes palavras do evangelista João: “Saiu aquele que estivera morto, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço. Então, lhes ordenou Jesus: Desatai-o e deixai-o ir.” [João 11:44]

Sem dúvida, a ressurreição de Lázaro foi um grandioso milagre! Porém, é importante que saibamos que após aquele milagre, Jesus transmitiu uma instigante ordem para os que ali estavam: “Desatai-o e deixai-o ir”. Essa ordem de Jesus possui uma clara justificativa: Lázaro foi ressuscitado, porém, ele ainda tinha os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço. Isso, com certeza, causava-lhe sérios embaraços para andar, para movimentar suas mãos e para ver com perfeição.

Uma vez que estamos comparando a ressurreição de Lázaro com o “novo nascimento”, somos levados a concluir que o “novo nascimento”, que também é um grandioso milagre, sempre apontará para algo mais, pois, quem quer que tenha experimentado ou venha a experimentar o “novo nascimento”, sempre será apresentado a uma crucial e intransferível ordem de Jesus para o Seu povo, a saber: É necessário “desatar e deixar ir” aquele que nasceu de novo! Isso aponta para o fato de que aquele que nasceu de novo deve ser alvo de um especial cuidado por parte dos seguidores de Jesus, para que esta nova pessoa adquira a maturidade necessária e suficiente para experimentar em sua vida um “novo caráter”, “novas atitudes” e uma “nova visão”.

Muito provavelmente um recém-nascido – uma criança de colo –, é o melhor exemplo de alguém que necessita de cuidados especiais para sobreviver, pois não se têm notícias de nenhum recém-nascido que, para chegar à fase adulta, não tenha tido a necessidade de receber cuidados de um adulto.

Espiritualmente falando, a vida espiritual tem o seu início com o “novo nascimento”. Assim, todo aquele que espiritualmente é um recém-nascido, também necessita do cuidado dos outros irmãos para sobreviver, de modo que possa experimentar em sua vida esse “novo caráter”, essas “novas atitudes” e essa “nova visão”.

Olhemos novamente para a história de Lázaro: Ele saiu tendo os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço”, o que demonstra que ele, tão logo ressuscitou, já necessitava de cuidados especiais. Sem dúvida, com os pés atados, Lázaro não poderia praticar, com total liberdade de movimentos, o seu “novo andar”. Igualmente, com as mãos atadas, ele não poderia praticar, com excelência de desempenho, suas “novas ações”. E por fim, com o rosto envolto num lenço, ele não poderia exercitar, com uma percepção ampla e profunda, a sua “nova visão”. Foi exatamente por isso que Jesus ordenou: “Desatai-o e deixai-o ir” [João 11.44].

Esta ordem de Jesus é, portanto, decisivamente uma importante figura do discipulado cristão! Como consequência de um discipulado intencional, bíblico, amoroso e comprometido, aquele que nasceu de novo receberá os cuidados necessários para que tenha as indispensáveis condições para experimentar o seu “novo andar”, dedicar-se à prática de “novas ações” e desfrutar dos gloriosos benefícios que uma “nova visão” pode proporcionar!

A. M. Cunha