sexta-feira, 14 de junho de 2019

MEDITAÇÕES NO EVANGELHO DE JOÃO - Capítulo 5


Perguntas cujo propósito é descobrir qual é o real desejo de alguém para um determinado momento são normalmente respondidas com uma clara, expressa e direta manifestação de vontade. Foi isso, por exemplo, o que aconteceu com o cego Bartimeu, quando Jesus lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?”. A resposta de Bartimeu manifestou claramente sua vontade: “Mestre, que eu torne a ver” [Marcos 10.51].

 

No entanto, o Capítulo 5 do Evangelho Segundo João apresenta outra forma de responder a esse tipo de pergunta, onde o que se deseja é descobrir a vontade específica de alguém para um determinado momento.

 

Quando estava em Jerusalém para uma das festas dos judeus e percorria, nos arredores da Porta das Ovelhas, os pavilhões do tanque de Betesda, Jesus encontrou-se com um paralítico que estava enfermo há 38 anos. Durante esse encontro, Jesus fez àquele paralítico a seguinte pergunta, cujo propósito era descobrir a sua real vontade para aquele momento: “Queres ser curado?” [João 5.6].

A resposta naturalmente esperada diante de tais perguntas deveria ser uma clara e expressa manifestação de vontade. O paralítico poderia ter dito: “Sim, Senhor, quero ser curado!”. Mas essa não foi sua resposta direta. O paralítico fez uso das seguintes palavras para responder à pergunta feita por Jesus: “Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.” [João 5.7].

Observe que o paralítico, nessa resposta, não manifestou clara e diretamente sua vontade, muito embora, indiretamente sua resposta tenha expressado o desejo de ser curado.

Vejamos o que ele revelou em sua resposta:

[1] Em primeiro lugar, ele revelou que estava sozinho, pois, disse ele, “não tenho ninguém que me ponha no tanque”. Até este ponto de sua resposta, não havia a expressão de uma vontade clara e específica de ser curado; o que ele revelou, até este momento, porém, foi o seu estado de solidão;

[2] Em segundo lugar, a partir da resposta dada por aquele paralítico, concluímos que ele, não obstante estivesse sozinho, sua postura não havia sido a de um homem envolto num deplorável estado de autocomiseração, de lamentação ou queixume. Ao contrário, em suas palavras aquele homem demonstrou que, em vez de ficar lamentando o seu estado de paralisia, ele escolheu agir, ainda que nos limites de suas possibilidades. Eis o que ele disse: “enquanto eu vou”. Ele era alguém que, embora fosse paralítico, e, portanto, vivesse num estado de paralisia física, sua alma não se achava algemada, pois ele estava internamente em movimento.

Como afirmamos acima, aquele homem, em sua resposta, não manifestou expressamente a vontade de ser curado. No entanto, podemos ver que ele revelou de forma veemente, porém implícita, que ele realmente possuía uma real vontade de ser libertado do seu estado de paralisia física. Quando afirmou “enquanto eu vou”, ele estava, em outras palavras, demonstrando que, de fato, sua vontade era a de ser curado.

Assim, embora ele não tenha respondido à pergunta de Jesus com uma clara e expressa manifestação da vontade, isso não significava, porém, que ele não possuía, de fato, a vontade de ser curado! Ao contrário, em sua resposta, ele demonstrou sua vontade de ser curado com a ação de ir ao encontro das águas. Dito de outra forma, aquele paralítico não manifestou sua vontade de ser curado com palavras, mas com atitudes! Aquela foi, sem dúvida, uma resposta singular!

Desta narrativa bíblica colhemos o precioso ensinamento de que as nossas atitudes, não raro, demonstram nossa vontade, ainda que não usemos palavras para expressá-la! Se olharmos atentamente para os espaços mais ocultos de nossa alma, pode até ser que não consigamos contemplar uma clara expressão da nossa vontade. Mas isso não significa que ela não esteja lá. De fato, ela está lá, ainda que profundamente escondida. Porém, se atentamente olharmos para o complexo ambiente das nossas atitudes, contemplaremos a nossa real vontade!

Que nossas atitudes sejam o reflexo de corações impulsionados, não para os tanques da existência humana, mas para o Supremo arquiteto do Universo, Aquele, que com o sopro da Sua boca, criou todas as coisas e todas as fontes que temos à nossa disposição. O Nosso Deus é, portanto, poderoso para soprar em nossa existência estática e fazer com que entremos em movimento nas águas do rio do Seu infinito amor!

A. M. Cunha

2 comentários:

Ronei disse...

Muito bom

arimarinho.blospot.com disse...

Deus o abençoe! Ronei! Que o Senhor o fortaleza em todos os seus caminhos!
"Mas sede fortes, e não desfaleçam as vossas mãos, porque a vossa obra terá recompensa."
2 Crônicas 15:7